São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2008 |
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Um dos expoentes da arte povera, Kounellis tem 1ª individual no Brasil ENVIADO ESPECIAL AO RIO E A NITERÓI
Jannis Kounellis esteve no
fundo do poço. Passou dias deitado no chão da galeria no Rio,
olhando a clarabóia no teto que
filtra os raios de sol. Sem quadros nem obras para expor, levou dez dias para decidir que
sua obra ali seriam tambores
pendurados em ganchos de
açougue: a pele do surdo e a memória sonora da festa.
A primeira individual no Brasil de um dos maiores representantes da arte povera -movimento italiano dos anos 60 e
70 que se pautou pelo uso de
materiais cotidianos- inaugurou na semana passada a galeria Progetti, no centro do Rio,
numa travessa da rua do Ouvidor e seu casario do século 19.
Para ele, seus tambores e instrumentos musicais afixados
na parede são nada menos que
pintura. Da mesma forma que
os 12 cavalos que amarrou à parede numa galeria de Roma nos
anos 60 não eram performance, mas sim uma ode à imagem.
"Não tem a ver com o movimento dos cavalos, tem a ver
com a imagem deles."
Quando plantou cáctus e instalou um poleiro para uma arara em outra galeria, ainda nos
anos 60, pensava da mesma
maneira: "A pintura é uma lógica, não é uma técnica". O brasileiro Antônio Dias, quando viu
o trabalho depois de "levar porrada" no Maio de 68 parisiense,
escreveu ao amigo Hélio Oiticica dizendo que sua tropicália
havia chegado à Europa.
No Rio, assistentes de Kounellis percorreram galpões das
escolas de samba Grande Rio e
Mocidade Independente de Padre Miguel atrás dos surdos que
o artista levou à galeria. "Eles
têm o som de uma festa dionisíaca", diz Kounellis. "A pintura moderna é exaltação."
Depois de décadas dessa diluição do suporte -do informalismo dos anos 40 à arte povera
dos anos 60 e 70 quase não
houve distinção entre escultura e pintura na Itália-, houve
um retorno ao aspecto artesanal da arte, um certo resgate da
pintura. Surgiram nos anos 80,
e foram arrebanhados pelo crítico Achille Bonito Oliva na
chamada transvanguarda, artistas como Mimmo Paladino e
Ernesto Tatafiore.
JANNIS KOUNELLIS
MIMMO PALADINO
ERNESTO TATAFIORE
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