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Com orçamento de R$ 250 milhões, Sesc planeja construir nove unidades e investir R$ 40 milhões por ano em obras
O primo rico
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Vista do 13º andar do número
119 da avenida Paulista, na região
central de São Paulo, a chiadeira
do ministro Gilberto Gil (Cultura)
por mais dinheiro soa até modesta. O 13º andar abriga a diretoria
regional do Sesc (Serviço Social
do Comércio). É ela que administra um dos maiores orçamentos
para projetos culturais no Brasil,
de R$ 250 milhões para este ano
só no Estado de São Paulo, e executa um plano de expansão que
prevê a criação de nove unidades
até 2008.
Gil reclama porque dispõe de
pouco mais da metade dos recursos do Sesc: apenas R$ 130 milhões para atender o país todo. No
Brasil, só a Secretaria das Culturas
da prefeitura do Rio faz frente ao
Sesc, com R$ 240 milhões.
O plano de obras do Sesc escancara a diferença de caixa que separa a entidade de órgãos públicos
similares. Enquanto Gil trava
uma batalha para arrancar R$ 2
míseros milhões do Ministério da
Fazenda para reformar o Museu
Nacional de Belas Artes, o Sesc vai
gastar R$ 52,2 milhões em 2004
para inaugurar duas novas unidades em São Paulo, uma em Pinheiros (zona oeste) e outra em
Santana (zona norte).
A entidade tem um plano de
obras que vai até 2012, com arquitetos do porte de Paulo Mendes
da Rocha e Edson Elito, que fez o
teatro Oficina com Lina Bo Bardi.
Até lá, segundo Danilo Santos
de Miranda, diretor regional do
Sesc São Paulo, o plano é investir
cerca de R$ 40 milhões por ano
em novas unidades. Para ter uma
idéia da empreitada, seria como
se uma nova Sala São Paulo, o melhor espaço para concertos do
país, fosse construída todo ano. A
entidade tem 30 unidades no Estado, as quais recebem 1,2 milhão
de visitas por mês. Seu público vai
do pagodeiro ao videoartista.
Entre as obras, estão previstas
duas reformas: uma no prédio da
avenida Paulista, onde a sede administrativa da entidade será convertida em centro cultural voltado
para tecnologias digitais, e a do
Sesc Belenzinho. Lá, a ocupação
provisória só atingiu um terço dos
54.000 m2 da antiga fábrica.
Santos de Miranda diz que o
projeto do Sesc não tem nada de
megalomaníaco.
"É a cidade de São Paulo que
exige um plano como esse. Não
queremos ser o JK da cultura. Essa idéia não existe", afirma, referindo-se ao presidente Juscelino
Kubitschek (1920-76), que construiu Brasília. "Essas unidades serão construídas para cumprir o
papel do Sesc, de oferecer bem-estar social por meio de cultura, lazer, ecologia e esportes."
Financiado pelo comércio
O Sesc foi criado por um decreto
presidencial em 1946 como uma
entidade patronal do comércio e
de serviços. É financiado com a
contribuição compulsória de
1,5% da folha de pagamento dessas empresas. Nos anos 50 e 60, tinha um perfil assistencialista.
A mudança em São Paulo começou com o Sesc Consolação, o
primeiro prédio construído para
abrigar uma unidade, inaugurada
em 1968. Lá, já havia a mescla de
teatro, que abriga hoje o Centro
de Pesquisas Teatrais de Antunes
Filho, quadras e piscinas.
A face atual do Sesc, com prédios criados por arquitetos contemporâneos, só foi obtida em
1982, quase por acaso. A entidade
comprara uma fábrica no bairro
da Pompéia para demolir e construir dois prédios, segundo um
projeto do arquiteto Júlio Neves.
Até que Glaucia Amaral, então diretora de pesquisa do Sesc, visitou
a fábrica em ruínas e sugeriu que
o espaço fosse restaurado pela arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992).
"A onda de restauro estava começando no mundo, e eu tinha
visto o Solar do Unhão, que Lina
havia feito em Salvador. O Sesc
Pompéia foi o primeiro em que
cultura e esporte tinham o mesmo peso. Antes a ênfase era no esporte", lembra Amaral, 65.
O modelo que Santos de Miranda dirige desde 1984 à frente do
Sesc foi tão exitoso que ele recebeu convites tanto do PT (para ser
secretário da Cultura da prefeita
Marta Suplicy) quanto do PSDB
(para ser candidato a vereador ou
deputado). Recusou-os porque
acha que falta sinceridade aos políticos (leia entrevista à pág. E3).
Mesmo sem cargo público, defende mudanças na lei de incentivos. Considera-a inadequada por
permitir que empresas abatam no
imposto de renda verbas que são
usadas para publicidade delas
mesmas ou de suas marcas. Verba
para marketing cultural é bem-vinda, defende, desde que não seja bancada pelo contribuinte.
Santos de Miranda acha que o
modelo do Sesc influenciou até o
CEU (Centro Educacional Unificado), o mais ambicioso projeto
de Marta Suplicy (PT), o qual mistura salas de aula, teatro, quadras
e piscinas na periferia da cidade.
O secretário da Cultura de Marta, Celso Frateschi, 51, elogia o
Sesc ("Foi a nossa secretaria de
cultura por muitos anos"), mas
acha que a comparação não procede: "A nossa questão é integrar
educação, cultura e esporte, mas
quem capitaneia tudo é a educação, inexistente no Sesc."
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