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TELEVISÃO
Homens sensíveis e "brucutus" ganham séries
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
O homem moderno vive uma
crise de identidade. Pelo menos
na TV paga, ele é o próprio dr.
Jekyll e sr. Hyde. "Manchild" (Eurochannel) e "No Mundo dos Machos" (Multishow), séries que serão exibidas nesta semana, expõem (e riem) dos extremos e
das contradições dessa figura outrora
onipotente.
"Manchild" é a mais interessante. Saudado como uma espécie de
versão masculina da sitcom "Sex
& the City" (Multishow), a série
produzida pela BBC inglesa estreou no exterior no ano passado
com grande sucesso.
Enquanto "Sex" vasculha os relacionamentos e o sexo sob a ótica
feminina -através das desventuras de quatro mulheres independentes beirando os 30, em Nova
York-, "Manchild" tem como
protagonistas quatro amigos na
faixa dos 50, em Londres. Portanto, supõe a série, homens sofrendo as crises da meia-idade.
"Manchild" segue uma linha
que começou a ser mais visível
com filmes como "Ou Tudo ou
Nada" (1997) e livros de Nick
Hornby como "Alta Fidelidade"
(1996). Estamos na seara dos homens "sensíveis", que admitem e
bradam suas fraquezas, "losers"
(perdedores) em alguns casos.
Fragilidade masculina
E como agiriam tais "losers" se
eles tivessem (muito) dinheiro no
bolso? Quem conecta a trama é
Terry (Nigel Havers, 53), um pai
divorciado. Tem uma namorada
adolescente e é um rebelde sem
causa tardio: adora motos potentes. Anthony Stewart Head, 49, faz
James, sedutor barato e dentista
de classe média alta. Completam
o quarteto Patrick (Don Warrington), um excêntrico colecionador
de arte, solteiro convicto, e Gary
(Ray Burdis, 45), o mais "estável",
casado e supostamente feliz.
Na série, o grupo frequenta bares caros e gasta dinheiro com vinhos para impressionar garotas
mais jovens. Mas nunca de uma
forma machista.
"A comparação com "Sex" é
meio óbvia. "Manchild" é mais indulgente na questão do sexo", diz
Ray Burdis, em entrevista à Folha.
Já no primeiro episódio, James
passa pelo pesadelo da maioria
dos homens: a impotência. No
tratamento médico, aproveita para dar uma "esticada" no pênis.
Para Burdis, a intenção não é retratar o homem moderno. "Não
existem muitas pessoas na vida
real como eles", diz. "Na maior
parte do tempo, você nunca vive
sua vida. Precisamos pensar sobre
isso, ter fantasias e aproveitar a vida. Esse é o verdadeiro assunto."
Como é comum nas comédias
britânicas, a ironia chega a massacrar os personagens. São eles simples idiotas ou caras que se deram
bem na vida? "À primeira vista,
eles parecem ser muito espertos.
Mas eles são acidentalmente idiotas, agem como crianças. É um tipo de charme, a graça da série."
Clichês sobre o homem
Já "No Mundo dos Machos" joga anos de correção política pela
janela ao mostrar homens assumindo e brincando com seus
mais caros estereótipos.
Produzido para a TV norte-americana, o programa é um
show apresentado por dois sujeitos, Adam Corola e Jimmy Kimmel, que investem em piadinhas
sexistas. Chega a lembrar as "aulas" do guru machista interpretado por Tom Cruise em "Magnólia" (1999). No auditório, formado
quase que totalmente por homens
com canecas de cerveja na mão,
os apresentadores vão mostrando
quadros sobre sexo -do tipo
"Como se comportar em um clube de striptease"- e pegadinhas
à "Jackass" -com rapazes obesos
mostrando as nádegas. Detalhe:
as poucas mulheres presentes são
animadoras que, quando não exibem decotes, vestem fantasias de
colegiais, enfermeiras etc.
MANCHILD. Quando: amanhã, às 21h30,
no Eurochannel.
NO MUNDO DOS MACHOS. Quando:
sábado, às 22h30, no Multishow.
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