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FILMES
TV PAGA
Martin Scorsese desencanta os homens da máfia
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
O tempo que os mafiosos de
"Os Bons Companheiros"
dedicam à comida e ao ato de cozinhar é quase cômica. Afinal, o
que fazem aqueles criminosos,
mais associados ao vermelho do
sangue do que ao vermelho do
molho de tomate, cortando alho
ou preparando uma almôndega?
O filme acompanha 30 anos da
amizade entre três amigos criminosos (Ray Liotta, Robert De Niro
e Joe Pesci) e o nascimento, ascensão e queda de um estilo de vida.
Esses anti-heróis de Martin
Scorsese são quase pessoas comuns, "gente como a gente",
guiados unicamente pelos instintos básicos. Não é de se estranhar
a insistente combinação do filme:
vida, morte, luxúria, gula e culpa.
É como se, ao mostrá-los cozinhando, Scorsese quisesse nos
mostrar como essa máfia de quinta categoria não tem nenhum glamour. E a seqüência primorosa
que mostra um dia na fase já decadente de Liotta, em que divide-se entre a venda de drogas, a fuga
da polícia, e o preparo de um molho de tomate, não deixa mentir.
No cinema, é muito fácil criar
um cenário romantizado da máfia. De um lado há essa espécie de
super-homem, acima do bem e
do mal, que decide a vida e morte
de pessoas. Ao mesmo tempo, filmes, como "O Poderoso Chefão",
mostram um universo que tem
sua grandeza peculiar, regido por
rígidas leis e códigos morais.
Scorsese vai mais embaixo. O
que interessa para ele é a máfia
guiada pela demência, pelo "salve-se quem puder". Não há rastros da tal nobreza idealizada.
Da inocência, passando pelo
desvirtuamento causado pelo tráfico de cocaína, até a queda nos
anos 80, ele nos lembra o quão
perto a máfia e seus pecados estão
de nós. Ela está perto, com a máfia
dos traficantes que se abrigam em
favelas e presídios. Está mais próxima ainda no desejo vil pelo poder, da cobiça, nas pequenas traições que revelam-se gigantescas,
dos altos escalões do poder oficial.
São todos, no final das contas,
bons companheiros, que adoram
preparar uma bela macarronada,
comprar algum badulaque supérfluo quando sobra dinheiro e que
saem para beber com os amigos.
OS BONS COMPANHEIROS. Quando:
hoje, às 19h, no TNT.
TV ABERTA
"E o Sangue Semeou a Terra" revolve conflitos
O Quinto Elemento
Globo, 12h45.
(The Fifth Element). EUA/França, 97, 100
min. Direção: Luc Besson. Com Bruce
Willis, Milla Jovovich. Desde sempre, o
francês Besson alimentou o sonho de ser
americano, que se realizou, ou quase,
nesta produção ambientada no século
23, em que a vida está prestes a ser
destruída por forças malignas. Só um
quinto elemento, que se somará aos
quatro já conhecidos (terra, ar, fogo,
água) poderá salvar-nos. E esse
elemento atende pelo nome de Milla
Jovovich. Em suma, tenta ser americano,
mas não é. Também não é francês. Não é
nada. Resta-lhe, essencialmente, a boa
produção.
Maior Que o Ódio
Cultura, 15h30
Brasil, 51, 100 min. Direção: José Carlos
Burle. Com Anselmo Duarte, Jorge Dória.
Dois amigos de infância separam-se ao
longo da vida, experimentam até mesmo
o ódio mútuo, mas a amizade se
mostrará ainda maior, como bem diz o
título. Cauções: Burle era, além de bom
diretor, sujeito muito inteligente; o
roteiro é de Alinor Azevedo, uma lenda
da especialidade. Estamos, no mais, no
setor de raridades da Atlântida: este é
um desses filmes difíceis de encontrar e,
talvez, a descobrir. P&B.
Um Agente Muito Trapalhão
Record, 18h
(Leonard Part 6). EUA, 87, 85 min.
Direção: Paul Weiland. Com Bill Cosby,
Tom Courtenay. Detetive atrapalhado
investiga uma ecologista que domina a
mente dos animais. Bill Cosby tem boa
clientela de fãs mais por sua simpatia do
que pelo talento.
O Fio da Suspeita
Bandeirantes, 20h30
(Jagged Edge). EUA, 85, 105 min.
Direção: Richard Marquand. Com Glenn
Close, Jeff Bridges. Advogada apaixona-se por seu sedutor cliente, aliás acusado
de ter assassinado a própria mulher.
Pode-se qualificar tudo isso de
ambigüidade. Ou, com menos pompa e
mais apropriadamente, de lengalenga.
O Especialista
SBT, 20h30
(The Specialist). EUA, 94, 90 min. Direção:
Luis Llosa. Com Sylvester Stallone,
Sharon Stone. Militar especialista em
bombas acaba vitimando
acidentalmente um inocente em
operação na Colômbia, o que o deixa
perturbado. Depois, ele é contratado por
Sharon Stone para uma vingança contra
a máfia cubana, chefiada pelo assassino
de seus pais.
O Justiceiro
Globo, 23h40.
(The Punisher). EUA/Austrália, 89, 92
min. Direção: Mark Goldblatt. Com Dolph
Lundgren, Louis Gossett Jr. Policial
(Lundgren) que tem a mulher e o filho
assassinados persegue sem
complacência os mafiosos responsáveis
pelo ocorrido. O filme é baseado em
personagem de HQ.
E o Sangue Semeou a Terra
Bandeirantes, 0h.
(Bend of the River). EUA, 52, 91 min.
Direção: Anthony Mann. Com James
Stewart, Arthur Kennedy. Stewart, ex-bandido, hoje guia de caravanas, leva
um grupo de colonos até o Oregon. A ele
junta-se outro fora-da-lei, não tão ex
assim (Kennedy), que será pivô dos
conflitos que ocorrerão a partir daí. É
assim o homem do Oeste, segundo
Mann: um ex-bandoleiro que busca se
integrar à vida da comunidade. Esse é o
eixo deste filme magnífico, para usar um
eufemismo.
(INÁCIO ARAUJO e PAULO SANTOS LIMA)
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