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"Devagar como o governo Lula", humoristas
preparam carreira no cinema depois de 11 anos na TV
Companheiro casseta
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Com escrachos à esquerda e à
direita, para fazer rir do regime
militar brasileiro e de seus opositores, a turma do Casseta & Planeta estréia no cinema neste ano.
"A Taça do Mundo É Nossa",
primeiro longa dos sete humoristas, tem direção de Lula Buarque
de Hollanda, ambienta-se no governo Médici (1969-1974) e inaugura o projeto do grupo de lançar
um filme a cada ano.
"A intenção é essa, mas é como
o governo Lula, a gente tem de
chegar lá devagar", diz Bussunda,
"ministro do cinema" na hierarquia Casseta & Planeta.
Há 11 anos o grupo exibe na
Globo o semanal "Casseta & Planeta - Urgente". Xuxa e Os Trapalhões, também atrações da emissora, têm tradição de capitalizar
no cinema a popularidade da TV
-somam 26 entre as 50 maiores
bilheterias nacionais.
Mas é outra a linhagem que "A
Taça do Mundo É Nossa" reivindica. "Quero fazer um clássico como eram as chanchadas. Filmes
de Oscarito e de Grande Otelo não
eram para ganhar [o Festival de]
Cannes. Eram um jeito brasileiro
de ver o mundo, que levava as
pessoas ao cinema para se divertir", diz Buarque de Hollanda, sócio da Conspiração Filmes, produtora do longa com a Tabajara
Records, selo dos Cassetas.
Bussunda afirma que o grupo
trabalhou durante quatro anos no
roteiro. "A gente se mete em todas
as mídias fazendo uma paródia
daquela mídia. O humor do Casseta & Planeta levado ao cinema
não poderia ser uma transposição
do que fazemos na TV." Além do
programa na Globo, o Casseta &
Planeta atua na internet, no rádio
e na imprensa. Sob o pseudônimo
Agamenon, publica coluna semanal no jornal "O Globo".
Boate
A escolha do tema do longa partiu da constatação de que "só se
fala do regime militar no Brasil a
sério. Mas já se passaram mais de
30 anos [desde o golpe de 1964].
Dá para rir tranquilamente", diz
Bussunda.
Para situar o público jovem, o
filme terá um texto introdutório.
O resumo de fatos históricos deve
ajudar o espectador a compreender a sátira contida em cenas como as da boate A Longa Noite da
Ditadura. É lá que a cúpula militar
se reúne, despacha sobre assuntos
estratégicos e rebola ao som de
Gal Costa.
Não é um show da cantora baiana o que se vê na tela, mas sim do
General Costa, um Bussunda em
trajes militares e visual black power, entoando o funk "Que Dureza", que descreve as agruras da vida militar: "Que dureza ser milico
linha-dura/ Levar a vida só prendendo comunista/ Pra bater e dar
porrada sem frescura/ E depois
fazer sumir, sem deixar pista".
Paródias de sucessos da jovem
guarda pontuam o filme, com o
personagem Peixoto Carlos (Hubert). Além de crer que suas composições foram roubadas pelo
"rei da jovem guarda", ele é um
dos três guerrilheiros da trama
dispostos a derrubar o regime.
Seus companheiros (forma de
tratamento constante no filme)
são Frederico Eugênio (Bussunda), "comunistão" que se autobatiza Vladimir Ilitch Tse-Tung
Guevara, e Denilson (Helio de la
Peña), ecologista que fuma "coisas inusitadas, mas nada ilícito".
Uma das ações do grupo é o
roubo da taça Jules Rimet, troféu
da conquista pelo Brasil da Copa
do Mundo de 70. A cena tem a
participação dos tricampeões
Carlos Alberto e Jairzinho.
Além dos jogadores, apenas
os atores Toni Tornado e Deborah Secco fazem participações. Todos os papéis (masculinos e femininos) são interpretados pelos sete cassetas. A apresentadora Maria Paula é a filha do general Mirandinha
(Cláudio Manoel).
A campanha de lançamento de "A Taça
do Mundo É Nossa"
começa neste mês,
com a exibição de
um "avant-trailer"
nos cinemas. A
produção do filme (em finalização) custou cerca
de R$ 5 mi.
As distribuidoras Warner e
Globo Filmes investirão R$ 3 mi
para divulgar a
estréia, que ocupará 200 cinemas
no país, em 21 de
novembro.
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