|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O vampiro das saladas
Aos 83 anos, Dalton Trevisan é adepto da internet e faz caminhadas diárias; entre os hábitos alimentares, o "vampiro de Curitiba", quem diria, dispensa a carne vermelha
DIMITRI DO VALLE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Se Dalton Trevisan é um artista metódico, sempre em busca da concisão em seus contos,
no dia-a-dia o escritor faz questão de manter esse espírito de
frugalidade. Tudo em nome do
anonimato.
O "vampiro de Curitiba" não
concede entrevistas há quase
30 anos. Reforçado pelo mistério da reclusão, o codinome
vem desde 1965, data da publicação do livro homônimo.
Por ocasião do lançamento
de seu novo trabalho, "O Maníaco do Olho Verde" (leia crítica ao lado), o escritor não respondeu a pedidos para conversar com a reportagem.
"Ele não faz isso por mal. O
Dalton gosta de ficar na dele
pois é contra a autopromoção",
diz o diretor teatral João Luiz
Fiani, responsável por cinco
montagens teatrais de contos
de Trevisan. Além da aversão à
imprensa, Trevisan também
costuma mudar seu itinerário
pelas ruas de Curitiba para não
ser reconhecido durante caminhadas, compras e visitas a cafés e livrarias.
Para evitar curiosos, conta o
editor, escritor e jornalista Fábio Campana, Trevisan altera
com freqüência a direção de
suas caminhadas ao sair de casa, no bairro Alto da XV, próximo ao estádio Couto Pereira.
"Ele é bastante preocupado
com essas coisas de não ter
contato com ninguém e faz
questão de mudar muito de rua
quando sai para seus exercícios
diários", afirma Campana.
Adepto da internet
A rotina de trabalho de Trevisan começa em casa, por volta
das 8h, quando vai para o "puxadinho" nos fundos da casa,
onde funciona seu escritório. E,
diferentemente do que a reputação de enclausurado possa
sugerir, ele é adepto do computador e da internet banda larga
sobre a escrivaninha.
O trabalho diário costuma se
resumir a 90 minutos de escrita. Em seguida, o "vampiro" sai
para caminhar pela região central de Curitiba.
No caminho, bate ponto na
livraria do Chain, do comerciante Aramis Chain, amigo há
mais de 30 anos. É lá que Trevisan busca encomendas de sua
editora, recebe recados de amigos e os pedidos de autógrafo
deixados pelos fãs.
Chain é um entusiasta de
conversas sobre a política e a
economia brasileiras. Faz avaliações críticas e detalhadas
quando se tocam nesses temas.
O tom muda quando a conversa
deriva para Trevisan.
"Não procuro falar muito
com ele. Deixo que fique à vontade aqui. Gosto da presença
dele e não quero incomodar fazendo muita abordagem", diz.
Teatralidade forte
"Quem conta as coisas que o
Dalton faz não é amigo dele",
afirma o cineasta Estevan Silvera, que dirigiu o curta-metragem "A Balada do Vampiro",
baseado em conto de Trevisan.
"O Dalton tem personagens
muito intensos em suas obras,
de teatralidade muito forte.
Quando faço teatro com os contos dele, o texto vai na íntegra",
diz o diretor teatral Fiani, que
mantém parceria com Trevisan
desde 1989, quando atuou na
peça "Mistérios de Curitiba",
dirigida por Ademar Guerra.
Aos 83 anos, Trevisan ostenta boa saúde, o que o motiva a
sempre produzir. A disposição
também é resultado de caminhadas diárias e alimentação
disciplinada, dizem amigos.
O escritor dispensa carne
vermelha, ironia no caso de um
autor tratado como "vampiro".
Prefere saladas, frutas, grãos e
alguma carne branca. Cardápio
conciso para ajudar a alimentar
seus contos.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Frase Índice
|