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Lynch sugere meditação para entender seus filmes
Diretor diz a fãs que, meditando, chega-se à "compreensão infinita" de seus longas
Tratado como um astro pop, cineasta foi aplaudido a cada frase em encontro em São Paulo, onde lançou seu livro sobre meditação
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
"Você acredita que as pessoas entenderiam melhor seus
filmes se fizessem mais meditação transcendental?", provoca
alguém da platéia por meio da
tradutora, que administra os
papéis com as perguntas e as lê
em português e inglês. Antes de
responder, David Lynch amplia
o sorriso para demonstrar que
terá prazer em morder a isca.
"Sem dúvida", diz ele. Aplausos
e apupos. "Compreensão infinita." Mais aplausos.
A cena resume o tom de um
dos encontros do cineasta norte-americano com o público
brasileiro, na tarde de quinta,
na Livraria Cultura do Conjunto Nacional: cinema disputando espaço na pauta com meditação transcendental, um público formado por tietes de ambos os campos de interesse, disposto a aplaudir a cada resposta
espirituosa, e um cineasta de
enorme simpatia, bem à vontade em momento de astro pop.
Lynch veio ao Brasil para lançar "Em Águas Profundas:
Criatividade e Meditação" (Ed.
Gryphus, 204 págs., R$ 29,90),
dedicado a "Sua Santidade Maharishi Mahesh Yogi" e que
saiu nos EUA no final de 2006
com o título "Catching the Big
Fish: Meditation, Consciousness e Creativity" (Pegando o
peixe grande: meditação, consciência e criatividade).
Muito do que falou às cerca
de 200 pessoas que lotaram o
teatro da livraria, de forma pausada para facilitar a tradução,
saiu quase literalmente do livro, incluindo a metáfora do título. "A meditação transcendental permite se livrar da negatividade e abrir o duto da
criatividade para que você trabalhe com mais energia", disse.
Dessa forma, seria possível alcançar a "paz absoluta" e "ir
mais fundo", até onde ficam os
"peixes grandes", as idéias mais
originais e estimulantes.
"No Brasil, onde há muito estresse, como em outras partes
do mundo, a meditação vai ajudar as pessoas", sugeriu. Com o
escritor Robert ("Bobby") Roth
e do cantor Donovan, parceiros
na divulgação das idéias de Maharishi por meio da Fundação
David Lynch, o cineasta não
veio ao Brasil para falar de cinema, mas o interesse da platéia o
obrigou a conectar um assunto
com o outro, ao falar do impacto da meditação transcendental, que conheceu em 1973, em
seu processo criativo.
Seu filme favorito, entre os
que dirigiu? "Recuso-me a dizer. São todos como pequenas
crianças, e não posso falar de
qual gosto mais." Em seguida,
quando o autor da pergunta esclareceu que se referia a filmes
de outros cineastas, o diretor
homenageou Kubrick, citado
antes por ter dito que "Eraserhead" (1977), de Lynch, era seu
favorito. "Gosto de muitos, mas
o que vou mencionar hoje é
"Lolita" (1962)." Aplausos.
Mudou de idéia em relação
ao merchandising no cinema,
que já condenou, por ter dirigido comerciais? "Faço comerciais de vez em quando por um
único motivo: ganhar dinheiro." Aplausos entusiasmados.
"Mas sempre digo que, quando
faço, aprendo algo: a eficiência
no modo de dizer alguma coisa
e tecnologia. Já o merchandising em um filme putrifica o
ambiente, e está ocorrendo cada vez mais. Que mundo é esse?" Mais aplausos.
O que David Lynch sabe de
David Lynch? "Nada." Aplausos. No final, o inevitável "obrigado" em português (já coloquial, sem o primeiro "o") e,
com horário cravado, outros
compromissos da agenda de astro pop: autógrafos para uma fila imensa que serpenteava por
todos os andares da livraria e, à
noite, outro encontro sobre
meditação na FAAP.
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