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Feira traz destaques do fotojornalismo
2ª edição da "I-Contemporâneo" inclui trabalhos de Thomas Hoepker e Elliott Erwitt, que já estiveram à frente da Magnum
Entre os cerca de cem trabalhos da mostra está famoso registro de Hoepker de jovens com fumaça das Torres Gêmeas ao fundo
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Thomas Hoepker passou semanas na cola do boxeador
Muhammad Ali para fazer um
retrato célebre de seu punho
estendido em direção à câmera.
Elliott Erwitt sentou mais de
seis vezes diante de Marilyn
Monroe para conseguir caras e
bocas impecáveis.
"Naquela época, quando a
gente encontrava alguém interessante ou famoso, grudava
nele", lembra Hoepker em entrevista à Folha. Já Erwitt tem
saudade dos velhos tempos.
"Isso que a gente fazia nos anos
60 não existe mais. Hoje sou
como motorista de táxi, só faço
o que mandam", reclama.
Pela falta de tempo e também por causa da morte das
grandes revistas fotográficas,
como a americana "Life" ou a
alemã "Stern", esses fotógrafos
trocaram a imprensa pelo
mundo da arte e expõem suas
fotos em São Paulo, na segunda
edição da feira de fotografia "I-Contemporâneo", que é aberta
na quarta para convidados.
A mostra acontece no nono
andar do shopping Iguatemi,
que, apesar da falta de vocação
para museu, traz a chance de
ver instantes marcantes clicados por grandes fotógrafos. São
cerca de cem trabalhos, com
preços de R$ 3.000 a R$ 9.000.
Hoepker, alemão, e Erwitt,
francês, ambos radicados em
Nova York, já estiveram à frente da agência Magnum, aquela
fundada por Henri Cartier-Bresson e amigos e que definiu
o que era fotojornalismo -ser
registro visual de uma época.
É bem isso que Hoepker exibe aqui em uma de suas fotos
mais conhecidas. Um grupo de
jovens conversa à luz do sol
num dia quente no Brooklyn,
enquanto ao fundo surge a fumaça preta das Torres Gêmeas,
alvejadas momentos antes por
dois aviões.
Hoepker conta que tentou
chegar ao epicentro do ataque,
mas ficou preso no trânsito.
Foi então na direção oposta e,
do outro lado do rio, flagrou
um clima nada terrorista. Em
respeito às vítimas, disse que
esperou três anos para publicar
a imagem -estampada na capa
de um livro seu-, mas foi acusado de banalizar a violência.
"As pessoas são condicionadas pela mídia a enxergar realidades terríveis", diz Hoepker.
"Mas depois desligam a TV, e a
vida continua. A realidade às
vezes pode enganar."
Outro exemplo do que parece, mas não é: Andy Warhol,
quando posou para Hoepker,
não tinha nada da força pop de
sua obra. "Ele estava muito
nervoso", lembra o fotógrafo.
"Parecia um zumbi, muito distante, absolutamente frio."
No caso de Erwitt, a missão
impossível que pode parecer
fotografar Fidel Castro e Che
Guevara resultou bem fácil. Ele
conta que chegou a Cuba, conheceu uma equipe que fazia
um documentário sobre o regime e se misturou ao grupo. "Ficamos lá fumando charutos o
tempo todo, eu, Fidel, Che",
conta. "Eu fotografei o que podia entre um charuto e outro."
Imagens fora do roteiro
Do outro lado do mundo, o
brasileiro Miguel Rio Branco,
hoje correspondente da Magnum e com exposição individual na mostra, fotografou cenas de Tóquio para um livro sobre os bastidores do filme "Babel", de Alejandro Iñárritu.
Dos 20 dias que passou na cidade, registrou uma série que
vai muito além do filme -cujos
trechos em Tóquio contam os
dramas de uma adolescente
surda. Rio Branco, abusando
das cores fortes que o consagraram, lança um outro olhar sobre a metrópole: deslumbrante
e vazia.
I-CONTEMPORÂNEO
Quando:
de quinta a domingo (14/ 9),
das 14h às 21h
Onde:
shopping Iguatemi - 9º andar
(av. Brig. Faria Lima, 2.232, tel.
0/ xx/ 11/8584-1747; livre)
Quanto:
entrada franca
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