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ÍNDEX
Em comunicado interno, diretor da emissora lista termos proibidos; cenas de sexo passam por avaliação de executivo
Globo corta palavrões de "Celebridade"
CLÁUDIA CROITOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO RIO
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Está proibido falar palavrões
nos programas da Globo, principalmente nas novelas. Em um e-mail distribuído a diretores e roteiristas de programas da emissora, no último dia 28, Mário Lúcio
Vaz, diretor da Central Globo de
Controle de Qualidade (CGCQ) e
principal executivo da área artística da rede, listou 16 deles.
"A empresa chegou a seu limite
de suportar os pretensos avanços
que nossos programas insistem
em consagrar. Desculpe pelas expressões, mas elas estão poluindo
nosso vídeo", escreveu Vaz na introdução da reprimenda coletiva.
Além dos palavrões, Vaz determinou que todas as cenas de sexo
das novelas passem por sua avaliação antes de ir ao ar.
O e-mail do executivo foi endereçado principalmente aos responsáveis pelas novelas "Kubanacan" e "Celebridade", pelo humorístico "Zorra Total" e pela série
"Cidade dos Homens".
Já surtiu efeito. A Folha monitorou os capítulos de "Celebridade"
exibidos entre segunda e quinta
passadas e não encontrou um só
palavrão. Antes, expressões como
"merda", "porra" e "dar" (no sentido sexual) eram rotineiras.
"Não estou lembrado se, nos últimos capítulos, havia palavrões
que tenham sido alterados na hora da gravação. De qualquer forma, não houve necessidade de
reescrever nada. Apenas ficou
combinado com o Dennis [Carvalho, diretor da novela] que palavras mais fortes que aparecessem seriam trocadas", disse à Folha o autor de "Celebridade", Gilberto Braga.
O discurso oficial da Globo é
que ações como essa não são novidade na emissora. Tanto que
existe em sua estrutura uma central de Controle de Qualidade.
O fato é que, avalia-se na emissora, ocorreram alguns abusos recentemente. O e-mail de Mário
Lúcio Vaz serviu para lembrar
que há limites.
É uma reação também à pressão
de telespectadores e autoridades,
descontentes principalmente
com cenas de violência e sexo. No
último ranking da campanha
Quem Financia a Baixaria É Contra a Cidadania, da Câmara dos
Deputados, divulgado no final de
setembro, seis dos dez programas
mais denunciados eram da Globo. Só no dia seguinte à exibição
do capítulo de estréia de "Celebridade", recheado de cenas picantes, a campanha recebeu 20 reclamações contra a produção.
No primeiro capítulo, em uma
cena de sexo, o personagem Otávio (Thiago Lacerda) aparecia tirando a calcinha de Maria Clara
(Malu Mader). Em seguida, no
meio de uma multidão, a manicure Jaqueline (Juliana Paes) mostrou os seios. Alguns capítulos
mais tarde era a vez de Deborah
Secco, que fez "topless" na praia.
Braga diz que já havia decidido
amenizar as cenas de sexo da novela antes de receber o e-mail do
diretor da CGCQ. "Ouvimos reclamações de espectadores mais
convencionais, e não é nossa intenção chocar ninguém. É muito
difícil lidar com um público de
formação tão diversa", afirma.
"Celebridade" vem sendo monitorada por técnicos do Ministério da Justiça e deve ter sua classificação revista.
Em seu e-mail, Vaz afirma que o
veto a palavrões e ao sexo não são
censura nem restrição à criação,
mas respeito aos telespectadores.
Cita indiretamente, como
exemplo a ser seguido, a novela
das seis, "Chocolate com Pimenta": "Não se ama só na cama. Não
se ama só pelado. Temos no ar
uma novela que prova com sobras o quanto valem a sensibilidade e o sentimento valorizados".
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