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MÚSICA
Sucesso de Maria Rita desperta gravadoras para vozes femininas; Sony aposta em Vanessa da Mata
Como se faz uma cantora
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O advento de Maria Rita reposiciona algumas pedras no dominó
musical das gravadoras brasileiras. Por um lado, a euforia em torno de Maria Rita ameaça deslocar
a supremacia de mais de uma década de Marisa Monte. Por outro,
o mercado se adapta a uma realidade em que as vozes femininas
voltam a ter competitividade.
Nesse contexto, a Sony, rival da
Warner de Maria Rita e da EMI de
Marisa, revaloriza a mato-grossense Vanessa da Mata, 27, que a
gravadora havia feito estrear em
2002, sem nenhum alarde.
Agora, o produtor Nelson Motta, 59, assume o posto de orientador de Vanessa -como fizera,
em 88, com Marisa Monte.
Motta seduziu o novelista Gilberto Braga a incluir Vanessa na
trilha de "Celebridade" -com
"Nossa Canção" (do repertório
anos 60 de Roberto Carlos), gravada especialmente para isso.
Aproveitando essa maré, a Sony
relança após 11 meses o CD de estréia da cantora e compositora,
incluindo como bônus "Nossa
Canção" e um remix de Ramilson
Maia para "Não me Deixe Só".
Essa última, de versos como
"Não me deixe só/ eu tenho medo
do escuro/ eu tenho medo do inseguro/ dos fantasmas da minha
voz", Vanessa compôs pensando
que Maria Rita a gravasse -o que
não aconteceu.
O vice-presidente da Sony, Alexandre Schiavo, rejeita nexos entre o sucesso de Maria Rita e a reativação de Vanessa. "Lançamos
Vanessa muito antes. O mercado
todo sabe que a Sony sempre esteve procurando uma nova cantora." "Acho o trabalho da Warner
com Maria Rita muito bom, mas,
se vamos comparar, não caberia
para Vanessa. Nunca paramos de
investir nela, mas passo a passo.
Maria Rita não tem nenhuma influência nisso", completa.
Nelson Motta também particulariza seu interesse por Vanessa.
"Sempre trabalhei só com intérpretes. É minha primeira vez com
uma compositora", diz.
Guardando no currículo associações com Elis Regina (1945-82,
cuja carreira ajudou a redefinir),
Gal Costa, Elba Ramalho, Leila Pinheiro, Sandra de Sá e Daniela
Mercury, Motta prevê uma carreira "brilhante" para Maria Rita,
mas diz que com ela ainda não teve vontade de trabalhar. "Depois
de ter trabalhado com Elis...", interrompe-se nas reticências.
Ele sabe que a comparação entre Vanessa e Marisa também pode ressurgir. "Ela inevitavelmente
vai sofrer um pouco esse questionamento, que tecnicamente é absurdo. O timbre pode até lembrar,
mas é porque as duas pertencem à
escola de Gal Costa."
Ele delimita diferenças: no início Marisa, hoje também compositora, queria ser só cantora de
palco, enquanto Vanessa faz trabalho autoral, de letra e música.
"Marisa é uma patricinha, no
bom sentido. É de classe média alta, fala várias línguas. Vanessa se
fez sozinha, vem lá do Araguaia."
Nos bastidores, há algo mais em
comum entre elas. Ao estrear em
disco, Vanessa foi empresariada
pelo escritório de Marisa, dirigido
por Leonardo Netto, que iniciou
carreira com... Nelson Motta.
"Na verdade, Vanessa foi empresariada por Suely Aguiar, que
trabalha dentro do meu escritório. Cheguei a dar uma força, porque ela é uma menina talentosíssima, sabe o que quer", diz Netto.
Suely explica o porquê da cisão
precoce, após poucos meses: "Comecei a produzir Adriana Calcanhotto, não tinha tempo para cuidar dela. Com dor no coração, tive
que lhe dizer que ia parar".
Peça valorizada com atraso no
novo xadrez das vozes femininas,
Vanessa não vê favorecimento injusto de Maria Rita, por herança
genética. "Estou completamente
empolgada com o sucesso dela. É
sinal de que, já que estamos ofuscados pelo "bundalelê", ainda resta
esperança. Graças a ela, se pode
apostar em outras pessoas", diz.
Ensaiando o primeiro show
com Motta, ela também sabe do
significado simbólico da parceria.
"Não vou ser cínica nem política,
dizer que não tenho expectativa
em relação a isso. É claro que existe. Mas faço terapia, não fico sem
dormir por isso", diz ela, que luta
pela profissão desde os 14 anos,
quando "fugiu" da casa dos pais
fingindo que ia ser médica.
Vanessa diz não temer que a interlocução com Motta e outros
veteranos puxe-a para padrões
musicais mais conservadores e
menos jovens do que ela. "A vestimenta eu vou dando de meu jeito,
não sou artista de deixar nada na
mão das outras pessoas, não."
Avisa que não aceita o codinome de "nova Marisa Monte".
"Acho um engano. Se olhar, somos completamente a antítese
uma da outra. Ela tem formação
lírica. Eu venho lá do mato, de
uma família simples."
E o de "nova Gal Costa", aceitaria? "Rapaz... Isso seria tudo...
Mas não é. Gal é Gal, vamos respeitar." Sua atual empresária é
Fafá Magna, ex-produtora de Gal.
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