São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
CRÍTICA DVD Glória do primeiro filme vem do Oscar dado a John Wayne INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA Sejamos francos: a glória de "Bravura Indômita" (1969) vem do Oscar de melhor ator ganho por John Wayne. Sejamos mais francos ainda: qualquer espectador mediano é capaz de citar ao menos uma dúzia de papéis em que John Wayne está tão bem ou melhor do que em "Bravura Indômita". Mas assim é o Oscar. Ganha-se, a horas tantas, não porque seja o melhor trabalho da pessoa, ou o melhor daquele ano, mas porque é a hora de ganhar. A história do filme é, literalmente, a mesma narrada no filme de 2010, com exceção do prólogo. Uma brava menina contrata o mais cruel dos agentes federais à disposição para buscar o assassino do pai. Se a história é idêntica, bem diferentes são os estilos. Em 2010, a versão de Ethan e Joel Coen é muito mais noturna, enquanto na de Hathaway predominam as cores claras. Até demais. Os Coen devem ter percebido que há azul demais no filme original. Carregaram as tintas na escuridão. A um filme, o primeiro, parece faltar uma marca, uma autoria. No segundo, ela parece sobrar. Num aspecto, porém, a versão original se destaca: a sexualidade. Tudo, no filme, gira, a rigor, em torno da sexualidade de Kim Darby, que interpreta a garota. De seu corte de cabelo "à la garçonne" à rejeição de qualquer assédio masculino, tudo em Darby traz a marca de uma ambiguidade muito evidente para não ser notada. Pode-se dizer, na direção contrária, que seu chapéu tem a marca da inocência, de uma infância ainda não superada. No entanto, suas virtudes, como o talento mercantil imbatível, não remetem ao nascente feminismo (o filme é de 1969), mas a atividades na época essencialmente masculinas. Da mesma forma, sua obstinação é menos de alguém ferido pela morte do pai do que de uma companheira de viagem que se sente plena por partilhar uma aventura. Um outro: o que mais chama a atenção no personagem de John Wayne talvez seja a capacidade de alternar ao seu aspecto rústico um humor sempre afiado. Isso parece ausente em Jeff Bridges. Na verdade, no primeiro "Bravura" existe um crime, mas ele parece ser algo anômalo num mundo essencialmente ordenado. No "Bravura" de 2010 estamos numa fábula ambientada num mundo inóspito, onde a perversidade talvez não seja a exceção, mas a regra. BRAVURA INDÔMITA (1969) DISTRIBUIÇÃO Paramount QUANTO R$ 19,90, em média CLASSIFICAÇÃO 14 anos AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Crítica/Faroeste: "Bravura Indômita" funciona, mas deixa ponta de frustração Próximo Texto: Crítica/Fotografia: Fotos de Wim Wenders registram ausência Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |