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Woody Allen estréia ópera, e Plácido aplaude
Tenor e diretor da Ópera de Los Angeles elogia versão
do cineasta para "Gianni Schicchi", do italiano Puccini
Diretor transpôs obra da Florença medieval para a Itália contemporânea em trabalho considerado "pequeno triunfo" por críticos
CLAUDINE MULARD
DO "LE MONDE", EM LOS ANGELES
O cineasta norte-americano
Woody Allen fez uma estréia
notável na Ópera de Los Angeles, no último sábado. Dirigiu
"Gianni Schicchi", ópera em
um ato de Giacomo Puccini
(1858-1924), que ele queria
apresentar em ritmo tão dinâmico quanto um velho filme
italiano em preto-e-branco.
"Bravo! Bravo!", exclamou o
tenor Plácido Domingo, diretor
artístico da Ópera de Los Angeles. Ele vinha cortejando há
muito tempo o realizador de
"Annie Hall" e "Manhattan",
cujo mais recente filme, "Vicky
Cristina Barcelona", estréia no
Brasil em novembro. "Na noite
de hoje [sábado], os cantores de
ópera provaram até que ponto
eles também podem ser grandes atores", disse Plácido.
O tenor promoveu uma abertura de sucesso para a temporada da Ópera de Los Angeles,
que celebra o 150º aniversário
de nascimento do compositor
italiano. "Gianni Schicchi" é a
parte final de uma trilogia de
Puccini chamada "Il Trittico",
cujas duas primeiras porções,
"Il Tabarro" (drama passional
no cais do rio Sena) e "Suor Angelica" (penitência e suicídio
em um convento italiano), foram encenadas sob a direção de
outro cineasta, William Friedkin ("O Exorcista").
Para a porção final da trilogia, Allen surpreendeu ao
transpor o trabalho de Puccini
da Florença medieval para a
Itália contemporânea e ao animar todos os personagens do
espetáculo, que gira em torno
da disputa de uma herança. A
marca de seu humor e de seus
trocadilhos foi injetada na ópera por meio de um letreiro em
uma tela onde se lê "Prosciutto
e Melone Productions".
"Woody contribuiu muito
com seu talento", disse Plácido
ao "Le Monde". "Essa idéia de
um cenário em preto-e-branco
foi maravilhosa, e nos fez ler
nas entrelinhas daquilo que
Puccini nos disse."
""Gianni Schicchi" é um pequeno triunfo em termos de direção de ópera", afirmou o diário californiano "Orange
County Register". Mark Swed,
crítico de música do jornal "Los
Angeles Times", foi mais efusivo: "Trata-se de uma produção
impecável. Woody Allen realizou a façanha de ser a um só
tempo impertinente e fiel ao
espírito da música e da obra".
Allen não subiu ao palco para
ser aplaudido, mas esteve lá para a noite de gala. "Eu não estava na sala", disse. "Estava jantando no Disney Center. Não
gosto de assistir a estréias, porque não há mais nada que eu
possa fazer. Caso as coisas corram bem, excelente. Se não..."
Quebra da regra
"Eu mesmo escolhi a obra e
todo o elenco. Amo ópera, mas
não é algo a que eu assista com
freqüência. Não conhecia essa
peça. Mas a música é tão bela!",
disse Allen. E em que consiste o
desafio da ópera, para um novato? "Impedir que 15 pessoas fiquem colidindo umas contra as
outras em espaço restrito."
O diretor decidiu transgredir
as regras da ópera, mantendo
todos os personagens no palco
o tempo todo, mesmo sem ter o
que cantar. "Não conseguia
imaginar como poderia deixá-los lá sem fazer nada. Para
mim, fazer com que interpretassem era mais natural, porque esse é o meu hábito."
Ele contou que recebeu propostas para dirigir outras óperas e até mesmo para filmar "La
Bohême", de Puccini, mas não
planeja reorientar sua carreira
ao novo campo. "Não vou dirigir uma ópera de três horas."
O "Trittico" de Puccini foi seguido no domingo pela estréia
de "The Fly", dirigida por outro
cineasta, David Cronenberg.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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