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Crítica/teatro/"Dois Irmãos"
Peça delicada convida à obra de Hatoum
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"Dois Irmãos", considerado pelo próprio Milton Hatoum o seu melhor livro, tem
um universo bem característico: partindo da vivência do autor, narra a saga de uma família
libanesa em Manaus, em um
tom que vai da densidade arquetípica de "Grande Sertão:
Veredas" ao humor poético de
"Cem Anos de Solidão".
Bem resumido pelo dramaturgista Jucca Rodrigues, que
mantém a estrutura épica da
narrativa por flashbacks, o texto peca às vezes por redundância e literalidade excessiva, mas
garante assim a pungente delicadeza do original.
O diretor Roberto Lage, além
das marcas precisas, é particularmente feliz na escolha do
elenco, tanto pelos tipos físicos
quanto por suas personalidades. Jiddu Pinheiro e Gabriel
Pinheiro, irmãos que vêm fazendo paralelamente uma carreira notável, são perfeitos para
os gêmeos inimigos Omar e Yaqub, com suas caracterizações
opostas (Omar/Jiddu, abusado
e cínico; Yaqub/Gabriel, tímido
e amargo), que diferenciam sua
grande semelhança física.
A beleza índia de Vivianne
Pasmanter, concentrada e triste, torna vivo o desejo dos irmãos pela criada Domingas,
sem nenhuma concessão ao
vulgar, enquanto Tatiana Thomé, fazendo a irmã solteirona
Rânia, evita qualquer clichê
com uma força interna que
contrasta com seu tipo frágil.
Rodrigo Ramos como Nael, o
filho de Domingas, narrador
principal que busca saber qual
dos dois irmãos é seu pai, está
um pouco preso na responsabilidade de dar o tom pungente à
narrativa, em contraste com
Bete Correia, que alterna com
desenvolto bom humor pequenos e variados personagens.
Imara Reis faz a matriarca
Zana com ternura solar, e Luiz
Damasceno, na pele de Halim,
o pai que escapa de qualquer
clichê de melodrama por sua
bonomia, seu amor sensual pela mulher, sua severidade com
que oculta um tímido bom senso, atinge aqui um dos pontos
mais altos de sua carreira.
O ponto fraco do espetáculo é
o cenário, de Alexandre Toro.
Excessivamente simbólico, impõe que toda a ação ocorra sob
gigantescas raízes, o que torna
unívoco o tema da busca pelo
passado. De qualquer forma,
"Dois Irmãos" é um espetáculo
marcante, que convida ao mergulho na obra de Hatoum.
DOIS IRMÃOS
Quando: qui. a sáb., às 19h30; dom., às
18h; até 5/10
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil
(r. Álvares Penteado, 112, tel. 0/xx/
11/3113-3651)
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Quanto: R$ 15
Avaliação: bom
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