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CRÍTICA
Programa destoa e olha certo para a cultura
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
De repente, você está ali, zapeando, e pára na TV Cultura. E lembra como o "Metrópolis" destoa de tudo o que tem
na TV e, de certa forma, também
do jornalismo cultural em outros
veículos. E que isso, destoar, é o
seu principal mérito.
Destoar da TV comercial, na
verdade, constitui uma obrigação da TV pública. É preciso contrapor-se com convicção ao ruído, ao tudo-por-audiência, à irrelevância, ao sensacionalismo
mais abjeto. É preciso persistir
em programas que contemplem
outros públicos, que mostrem
outros rostos e que usem outros
padrões de tempo. Nem tudo
atualmente na TV Cultura é assim, mas o "Metrópolis" é.
De certa maneira, o programa
não tem lá muitos mistérios. Baseado na agenda cultural de São
Paulo, produz reportagens na
área de cinema, artes plásticas,
teatro, música, design, livros. São
30 minutos de segunda a sexta,
desde 1988. Apesar de se aproximar bastante daquilo que está
nos cadernos culturais dos principais jornais, o tratamento jornalístico do "Metrópolis" a esse
universo cultural torna os assuntos, ao mesmo tempo, mais próximos e mais leves.
Na TV, talvez por questões da
linguagem, tudo soa mais descritivo do que prescritivo. Embora
esse efeito seja uma ilusão, seu
uso, ao que parece bastante consciente, no programa tem resultados interessantes e simpáticos.
Quer dizer, uma coisa é ler uma
reportagem cujo título é "Humor
é uma forma de liquefação, diz
Baravelli"; outra é ver o artista
plástico Luiz Paulo em seu ateliê,
fazendo uma peça de gesso e falando essa frase no meio de outras, quase que por acaso. É tudo
mais ligeiro, o que nem sempre é
exatamente um problema.
Numa dada quarta-feira, enquanto a Globo exibia o futebol
de sempre, glosado pela Record,
Silvio Santos barganhava deseducação por dinheiro no "Sete e
Meio", do SBT, e Luciana Gimenez entrevistava a viúva de Ox
Bismarchi (quem? Pois é) no
"Superpop" da Rede TV!, o "Metrópolis" parecia estar em outro
mundo, que também deveria caber na TV, por que não?
Não é, ao contrário do que se
imagina, um mundo despovoado. Restrito, talvez, por todas as
razões que não são o caso de arrolar aqui, mas não deserto. Há
gente circulando, produzindo,
assistindo, o que constitui um
outro elemento de diferenciação
do "Metrópolis" em relação ao
jornalismo cultural impresso. O
público e suas reações aparecem
em algumas reportagens e nas
entradas ao vivo em peças e
shows, hoje mais escassas.
Há que se livrar de alguns cacoetes, como um certo ar anos 80
na pauta, e superar deficiências
de produção -nessa mesma
quarta-feira, a muito anunciada
matéria sobre o show do David
Byrne consistia em um texto lido
pelo apresentador Cunha Jr. e a
exibição de trechos de um clipe
velho, velho. Mas, apesar disso, o
olhar informativo, desassombrado e persistente sobre o mundo
cultural do "Metrópolis" ainda
tem o que ensinar para a TV.
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