São Paulo, segunda-feira, 11 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tributo mostra fascínio por cantora

Recém-lançada nos EUA, homenagem bancada pela Verve, com produção de Phil Ramone, chega ao Brasil nos próximos dias

Sem apelar para remixes, álbum tem tom (justificável) de reverência; Ella Fitzgerald surge em gravação inédita, em duo com Stevie Wonder

Olegario Pérez de Castro - 23.fev.1966/Efe
A cantora americana em 1966, durante apresentação em Madri; sucessos como "A-Tisket, A-Tasket' e "Lady Be Good' estão em CD


CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ela cantava com elegância e equilíbrio, sem exagerar nas emoções. Os músicos admiravam a inventividade de seus improvisos vocais. Os compositores a adoravam, porque seus versos eram interpretados por ela com o máximo de fidelidade. Por essas e outras, ninguém mereceu mais o título de "primeira dama da canção" do que Ella Fitzgerald (1917-1996).
O fascínio que essa intérprete norte-americana exerceu por mais de cinco décadas não se apagou com seu afastamento dos palcos e estúdios, no início dos anos 90. Até cantores bem jovens, que se destacam hoje nas cenas do jazz e do pop, como Jamie Cullum, Madeleine Peyroux ou Amy Winehouse, já declararam publicamente serem fãs de Ella.
Essa admiração também fica evidente no CD "We All Love Ella: Celebrating the First Lady of Song", tributo musical bancado pela gravadora Verve para comemorar os 90 anos que Ella teria completado neste ano. Recém-lançado nos Estados Unidos, chega ao mercado brasileiro, pela Universal, nos próximos dias.
Com produção assinada pelo experiente Phil Ramone (trabalhou com Ray Charles, B.B. King e Bob Dylan), o álbum reúne uma dúzia de estrelas do jazz, do blues e do pop, que interpretam canções imortalizadas pela diva.
A própria Ella também aparece em uma faixa-bônus: a inédita versão de "You Are the Sunshine of My Life", gravada em duo com Stevie Wonder, no festival de Nova Orleans, em 1977.

Sem DJs nem remixes
Ramone não cedeu à tentação de "modernizar" o repertório de Ella Fitzgerald para fisgar o público mais jovem, armadilha que já comprometeu tributos similares. Clássicos são atemporais, não precisam ser atualizados.
Sem apelar para DJs, remixes nem batidas eletrônicas, Ramone deu ao projeto um tom de reverência plenamente justificável: afinal, raros cantores demonstraram o respeito e a fidelidade que Ella dedicava às canções que interpretava.
Natalie Cole abre o CD com "A-Tisket, A-Tasket" (canção de ninar que se tornou o primeiro sucesso de Ella, em 1938), lembrando o tom pueril da gravação original, em arranjo para big band. Mais pessoal, Chaka Khan exibe a sua afinidade com o jazz em "Lullaby of Birdland". As duas retornam mais adiante, em um duo meio teatral e recheado de "scats" (vocais onomatopaicos), em "Mr. Paganini".
Outra expert nos scats é Dianne Reeves, que esbanja elegância e suingue, em "Lady Be Good". Queen Latifah, que ultimamente tem preferido o jazz ao hip hop, se sai bem em "The Lady Is a Tramp", cantando com doçura.
Já Diana Krall derrama seus suspiros e trejeitos sensuais em "Dream a Little Dream of Me", bem acompanhada pelo piano sofisticado de Hank Jones. Aliás, não faltam bons músicos nos arranjos, como Russell Malone (guitarra), Regina Carter (violino) e Alan Broadbent (piano), entre outros.
Também há surpresas, como a novata Ledisi, que lembra o estilo de Dinah Washington. Além de arrasar nos scats, sua versão de "Blues in the Night" vai deixar muitas veteranas com inveja.
K.D. Lang também surpreende, interpretando "Angel Eyes" com suavidade, acompanhada por cordas. E a jovem Lizz Wright afirma sua personalidade, ao criar uma versão etérea de "Reaching for the Moon".
Já as participações do afetado galã Michael Bublé e da cantora country Linda Ronstadt seriam dispensáveis, mas não chegam a comprometer o conjunto da homenagem.

WE ALL LOVE ELLA


Intérpretes: Dianne Reeves, Diana Krall, Natalie Cole, K.D. Lang, Lizz Wright, Queen Latifah e outros
Gravadora: Verve/Universal
Quanto: a definir
Avaliação: bom



Texto Anterior: Horário nobre na TV aberta
Próximo Texto: [+]Saiba mais: Sonho de Ella Fitzgerald era ser dançarina
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.