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Nneka, quem?
Cantora nigeriana radicada na Alemanha lança segundo disco, "No Longer at Ease", e arrebanha críticas elogiosas ao fundir ritmos como funk, afrobeat, hip hop, jazz e soul
Marcnesium/Divulgação
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A cantora nigeriana Nneka, já comparada a Lauryn Hill
ADRIANA FERREIRA SILVA
EDITORA DO GUIA DA FOLHA
Nneka é bela e tem uma belíssima voz. Seu marcante
acento e sua rebelde cabeleira,
penteada em estilo black power, revelam suas origens africanas, declaradas também em
letras e rimas. Rimas essas que
versam ainda sobre as mais íntimas aflições da moça, embaladas por reggae, rap, jazz, funk,
trip hop, soul.
Com tudo isso, dá para entender porque publicações como o jornal inglês "Sunday Times" e os franceses "La Marseillaise" e "Libération", entre outros, a apresentam como "a nova Lauryn Hill".
A comparação faz sentido, e a
diva americana e sua extinta
banda, o Fugees, são, declaradamente, uma de suas referências. Mas Nneka Egbuna tem
personalidade e atitude de sobra para ser mais do que apenas
uma sucessora de "miss Hill". E
se a aposta dos críticos estiver
correta, seu primeiro disco,
"Victim of Truth" (2005), teria
sido um "best-seller global" se
lançado em Nova York.
Se a estréia impressionou,
em "No Longer at Ease", álbum
que saiu neste ano no exterior
(leia crítica nesta página), Nneka aprimora suas influências e,
pela primeira vez, é ouvida pelo
grande público.
Foi graças a ele que as pessoas descobriram o CD anterior. E é também por ele que
seu nome figura no line-up de
festivais europeus ou abrindo
para artistas como Sean Paul e
a dupla Gnarls Barkley.
Mas Nneka parece passar ao
largo das apostas e comparações. "As pessoas têm necessidade de relacionar um artista
ao outro. A mídia precisa disso.
Eu não", disse a cantora à Folha em entrevista realizada por
telefone.
"De certa forma, é um prazer
ser comparada a Lauryn Hill,
porque ela é alguém que, definitivamente, tem algo a dizer.
Você sente e ouve isso em suas
letras", fala Nneka.
"Na verdade, ela é grande demais para ser comparada ao
que estou fazendo."
Histórias
Nascida em Warri, a "cidade
do petróleo", na Nigéria, Nneka, 27, tem muito a contar.
Atualmente, ela trafega entre a
terra natal, onde mora seu pai,
e Hamburgo, na Alemanha, para onde se mudou aos oito anos,
por motivos sobre os quais ela
pouco fala. "Nunca foi minha
intenção vir para cá [Hamburgo]. Tive problemas pessoais e,
por coincidência, estava na Alemanha na época, mas sou mais
africana do que européia."
Formada em antropologia,
Nneka canta desde sempre,
mas, só nos últimos três anos
transformou seu hobby em
profissão. "Nunca tive chance
de fazer música. Minha família
não tem nada a ver com a música. Meu pai é um arquiteto que
se tornou fazendeiro. Sobre minha mãe [que é alemã], sei pouco. Não cresci com ela", conta.
"Escrevia sempre que sentia
saudades da Nigéria. Quando
estava sozinha. Era uma terapia para lutar contra a tristeza."
Além de sentimentos pessoais, suas letras tratam de problemas sociais e políticos da
África e, segundo ela, refletem
mais ou menos sua experiência
de vida. "O que acontece ao
meu redor e as pessoas com as
quais convivo são minha grande inspiração", descreve.
Neste ponto, a influência do
conterrâneo Fela Kuti, o criador do afrobeat, se sobrepõe à
do hip hop norte-americano ou
à do reggae jamaicano, dois ritmos marcantes no diversificado estilo de Nneka. "Fela Kuti é
uma grande inspiração para todos os nigerianos. Ele e sua luta
pela democracia e pela liberdade artística", diz. "Fela é o rei do
afrobeat; um dos pais da música africana. Ele era capaz de exprimir as vontades do povo."
Diversidade
Ainda que a Nigéria seja o
principal tema das canções de
Nneka, e suas ruas o cenário de
seus clipes -todos disponíveis
no YouTube-, ela concorda
que jamais teria feito um disco
como "No Longer at Ease", ou
mesmo "Victim of Truth", se
estivesse morando na África.
"Se não tivesse saído de lá, jamais teria tido a chance de viver por mim mesma e de ver
certas coisas", acredita. Além
disso, Nneka não teria conhecido o DJ alemão Farhot, que delineou a sonoridade de seus
dois álbuns -o segundo teve
ainda a participação do produtor francês Jean Lamoot, conhecido por trabalhos com Salif Keita e Noir Desir.
Em ambos, Nneka se reveza
rimando e cantando num estilo
muito próprio. "Se tivesse que
colocar em uma categoria, o
primeiro disco é hip hop, afro
hip hop e soul", afirma. "Já "No
Longer at Ease" não sei como
definir. É um CD repleto de diversidade e, ao mesmo tempo,
muito pessoal. Fala de temas
que me tocam muito seriamente. Diria que é louco."
E é por essa diversidade, certa dose de loucura e originalidade, que Nneka deve dar o que
falar daqui para a frente.
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