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Livro reúne peças da Cia. do Latão
Sete montagens autorais da companhia, conhecida por fazer teatro "político-dialético", ganham edição da Cosac Naify
Para o diretor e autor Sérgio de Carvalho, os textos dos espetáculos "têm vida para além do palco", além de "qualidade literária"
AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Quem não tem acesso ao gabinete do governador, tem que
se virar." A afirmação de Sérgio
de Carvalho, diretor e fundador
da Companhia do Latão, conta
boa parte da história do grupo
de teatro que, em 11 anos, "se virou" para levar ao palco pelo
menos sete peças autorais, que
serão lançadas em livro amanhã, no Sesc Pompéia ("Companhia do Latão - 7 Peças", de
Sérgio de Carvalho, Márcio
Marciano e colaboradores, Cosac Naify, 416 págs., R$ 45).
Os textos -"O Nome do Sujeito" (1998), "A Comédia do
Trabalho" (2000), "Auto dos
Bons Tratos" (2002), "O Mercado do Gozo" (2003), "Visões
Siamesas" (2004), "Ensaio para
Danton" (1996) e "Equívocos
Colecionados" (2004)- são,
segundo Carvalho, de peças
"efetivamente autorais", embora o grupo seja conhecido
por buscar "novas formas de representação, quase autorais".
A publicação em livro, ele explica, atende a dois propósitos:
"Sentimos que tinham vida para além do palco. Tinham qualidade literária que permitia a
elas [as peças] serem lidas com
prazer e interesse, podendo
ainda ganhar montagens de outros artistas. Em segundo lugar,
já havia uma procura pelos textos. Grupos de outros Estados,
pesquisadores da Alemanha,
dos Estados Unidos, vinham
pedindo os textos".
Dramaturgia coletiva
Além dos pedidos, o livro reflete, como afirma Carvalho, a
"forte preocupação com a dramaturgia que o Latão tem desde o início, em 1997". "A idéia
sempre foi conjugar ao mesmo
tempo a dramaturgia coletiva,
produzida nos ensaios, com um
tipo de experimentação formal
épica, mais fragmentária, crítica, que não reproduzisse os padrões convencionais do drama", explica.
Foi assim que, para não reproduzir os tais padrões convencionais, o grupo levou, por
exemplo, "A Comédia do Trabalho" (2000) para um assentamento do MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) no interior do Paraná,
tendo como base pesquisas sobre desemprego nas ruas, em
sindicatos e com especialistas.
"Um teatro convencional,
sim, tem público elitista. Nosso
caso é outro", afirma o diretor.
"Na cidade, nossa experiência é
com público relativamente intelectualizado, mas não endinheirado. Do ponto de vista dos
temas, nossa dramaturgia reflete o processo de formação
burguesa no Brasil."
Sobrevivência
O teatro "dialético-político"
do Latão quase nunca conseguiu captar recursos, via Lei
Rouanet, ferramenta de patrocínio para muitos grupos de
teatro, da qual Carvalho é crítico declarado. "A gente tentou
por anos captar pela Lei Rouanet e nunca deu certo", diz ele.
"É uma lei mentirosa, porque
favorece quem já tem o patrocinador em vista, que delega para
o gerente de marketing a escolha da produção. A cultura do
favor ainda predomina, com raras exceções."
No ano passado, entretanto,
o grupo entrou no edital de fomento da Petrobras, "uma dessas exceções". Com isso, a companhia prevê lançar dois livros,
CDs e DVDs das peças, que circularão por seis capitais do
país, além de produzir, em
2009, o projeto "Ópera dos Vivos", com vários espetáculos.
Antes disso, "o ano foi duro".
"Mas a gente contou sempre
com a Lei de Fomento em São
Paulo, que é a coisa mais importante para os grupos", diz o
diretor que, em seguida, constata: "Mesmo assim, com o teatro, podemos garantir sempre
uma sobrevivência relativa".
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