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HQ expõe a dura tarefa de crescer
Segunda parte da série "Black Hole" confronta adolescentes norte-americanos com doença misteriosa
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando se é adolescente, as
mudanças (entrar na faculdade, perder a virgindade, encarar
as transformações pelas quais
seu corpo está passando) podem provocar sensações intensas de desafio e medo.
O quadrinista Charles Burns
usou esses sentimentos para
criar "Black Hole", série lançada nos Estados Unidos em 12
capítulos, publicados de 1995 a
2005. No Brasil, as histórias foram divididas em duas edições:
"Introdução À Biologia", lançada no ano passado, e "O Fim",
que está sendo publicada agora.
No primeiro volume, o leitor
foi apresentado a um grupo de
adolescentes de Seattle (EUA)
nos anos 70. Eles têm vontade
de crescer, mas também medo
de falhar. Além disso, há neles,
e talvez na maioria dos adolescentes do mundo real, o pavor
da rejeição. Ser excluído de
uma turma ou ser preterido por
um (a) garoto (a) são temores
constantes e profundos, quase
palpáveis.
No caso de "Black Hole", há
um fator a mais. Uma doença
misteriosa, não se sabe se fatal,
está se espalhando entre os jovens da região. Ela é transmissível por meio de sexo sem preservativo e suas conseqüências
são imprevisíveis. Pode nascer
uma cauda, surgir uma pequena boca no pescoço ou deformar o rosto.
O fato é que o sentimento de
exclusão e solidão, tão comuns
a adolescentes, aumenta exponencialmente com essa mudança física -e que, na maior
parte dos casos, não pode ser
escondida. Mais do que apenas
diferentes, esses jovens se sentem monstros ameaçadores.
O que será essa misteriosa
doença, acompanhada tão de
perto pela sensação de estar à
margem da sociedade? Uma
metáfora para a Aids? Para as
transformações físicas que
vêem com a puberdade? Para o
amadurecimento de criança
em adulto?
Não importa -pelo menos,
não para os jovens protagonistas de "Black Hole". O fato é que
essa doença está lá, ao redor deles. Se um jovem ainda não foi
contaminado, certamente conhece alguém que já foi. Não
adianta fingir que não existe. O
clima de terror constante em
"Black Hole" assemelha-se aos
percalços inevitáveis da vida
real: não há o que fazer, a não
ser aprender a conviver com
eles.
Entre as inseguranças, decisões, medos e atitudes corajosas dos seus protagonistas,
"Black Hole" é uma história em
quadrinhos que pode ser lida de
muitas maneiras. Mas é difícil
passar por ela sem refletir sobre essa dura tarefa do amadurecimento.
BLACK HOLE - O FIM
Autor: Charles Burns
Tradução: Daniel Pellizzari
Editora: Conrad
Quanto: R$ 34,90 (192 páginas)
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