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Ópera narra épico sobre Colombo
Produção do Municipal, que estreou em 2004, volta agora mais sombria e fala do fim trágico dos índios
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
É como se fossem encenadas
duas óperas simultâneas: "Colombo", de Carlos Gomes
(1836-1896), e sua leitura contraditória feita pelo diretor cênico William Pereira.
O compositor brasileiro tinha uma visão épica do navegador que descobriu a América.
Mas ao canto e à música juntam-se críticas aos seus patrocinadores -Fernando de Aragão e Isabel de Castela, que expulsaram os judeus da Espanha
e favoreceram a inquisição.
É do embate entre as duas visões que surge o espetáculo,
com estréia amanhã no Teatro
Municipal, com a sinfônica da
casa regida por José Maria Florêncio e um elenco de belíssimas vozes -destaque para o
barítono Sebastião Teixeira
(Colombo) e a soprano Mônica
Martinez (Dona Isabel). O libreto é Albino Falanca, pseudônimo de Aníbal Falcão.
A ópera é acompanhada por
projeções cinematográficas de
infiéis queimando em fogueiras
e gravuras do século 16.
A produção estreou no Municipal em 2004 e foi retomada
agora com uma ênfase propositalmente lúgubre. Os solistas e
os membros do Coral Lírico,
que representam a corte espanhola, aparecem vestidos de
negro. Seguram velas, como se
participassem de um funeral. E
os bailarinos, de índios com
passos exóticos, terminam exterminados, na servidão ou prisioneiros.
Há cenas teatralmente fortes, como a da tempestade, em
que as velas de navegação e os
mastros se misturam a uma
movimentação frenética de
cantores e atores pendurados
em escadas de cordas.
"Colombo" foi a nona e última peça de Carlos Gomes, que
não a chamava de ópera, mas de
"poema vocal-sinfônico". Estreou em 1892, no Rio, onde,
com a República, o compositor
monarquista enfrentou uma
reação do público grosseiramente hostil.
Para o diretor William Pereira, "Carlos Gomes tinha uma
visão ufanista e apologética da
colonização da América", que a
montagem procura temperar.
O envolvimento dos reis católicos da Espanha é motivo para
que a produção tenha algo de
sombrio, "o que em cena realça
com a luz do Novo Mundo".
A cena de balé, diz ele, em geral cortada das produções por
ser inverossímil -"índio dançando no século 19 só pode ser
paródia"- acaba funcionando
como uma premonição dos estragos provocados pela chegada do europeu.
O diretor cênico acredita que
Colombo tinha consciência disso. Revoltou-se com o tratamento dado aos índios, o que
serviu de pretexto para que
caísse em desgraça, em informação que surge nas legendas
projetadas ao final.
"COLOMBO", DE CARLOS GOMES
Quando: amanhã e dias 16 e 18, às
20h30, e dia 14, às 17h
Onde: Teatro Municipal, pça. Ramos de
Azevedo s/n, tel. 3397-0327
Quanto: de R$ 20 a R$ 40 (ou R$ 10 a
R$ 20, no dia 16)
Classificação indicativa: não recomendada para menores de 5 anos
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