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Figura materna está em palcos da cidade
PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO
"Ser mãe é padecer num paraíso", diz o gasto soneto de Coelho
Neto declamado nos jardins de
infância de antigamente. E, apesar
de padecerem de igual maneira,
duas das maiores matronas da
história do teatro escolheram curtir as suas dores bem longe do
Éden do escritor parnasiano.
"Mãe Coragem e Seus Filhos",
de Bertolt Brecht, e "Casa de Boneca", de Henrik Ibsen, em cartaz
na cidade hoje, Dia das Mães, espelham mulheres que mantêm relações singulares, turbulentas e
contraditórias com suas proles.
Explicitada logo no título do
texto brechtiano, a maternidade
de Ana Fierling nutre-se da destruição da guerra. A anti-heroína
cria seus filhos comerciando durante conflito que arrasou a Europa no século 17. Todos mortos por
aquilo que os alimentou, Mãe Coragem segue com sua carroça,
ainda que tropece na própria solidão. Maria Alice Vergueiro, que
faz o papel, caiu em cena durante
a estréia no Festival de Teatro de
Curitiba e disse ter descoberto outra dimensão para a personagem.
Talvez o maternal seja somente
uma das características de Nora
Helmer, a bonequinha de luxo da
"Casa de Boneca", de Ibsen, vivida por Ana Paula Arósio. Sufocada dentro da condição oprimida
da mulher no século 19, ela abandona o marido, a casa e todas as
suas obrigações para viver a liberdade. No rastro, ficam os filhos.
Curiosamente, há na cidade
uma comédia que estabelece,
quem sabe se por coincidência, alguma relação com o texto do dramaturgo norueguês. É "Socorro,
Mamãe Foi Embora!", do autor
de telenovelas Benedito Ruy Barbosa. No diminutivo, a matriarca
renuncia ao lar para seguir carreira de atriz.
Insensíveis essas mães? Em certo sentido, sim. Mas nada supera
a crueldade mítica de Medéia, do
espetáculo homônimo que encerrou temporada na semana passada, de Eurípides. Para fazer o
amante que a traiu sofrer, a feiticeira é capaz de aniquilar seu próprio sangue. A infanticida, na leitura de Antunes Filho, é Gaia, a
mãe Terra, que se vinga dos maus
tratos de seus filhos, nós.
Mães são capazes de tudo. Até
de matar o marido que não traz
dinheiro para comprar a comida
das crianças, como é o caso de
uma das internas do hospício feminino de "Hysteria", revelação
da mostra Fringe do festival teatral curitibano. Ou de comer carne humana, com o filho, para sobreviver ao nonsense de "Os Solitários", de Nicky Silver.
Presente, das que estão em cartaz, recebeu, no entanto, somente
a excêntrica miss Daisy. Com problemas para continuar guiando
seu automóvel, a velha judia é
obrigada, pelo filho, a aceitar a
contratação de um chofer negro,
Hoke Colburn, após bater seu carro no jardim do vizinho.
A peça, "Conduzindo Miss
Daisy", ganhou o Prêmio Pullitzer
e teve versão no cinema com
Morgan Freeman e Jessica Tandy.
Inicialmente arredia, Daisy inicia
aos poucos uma relação de amizade e tolerância com o motorista.
Tornam-se ótimas companhias.
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