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Televisão/Crítica
"Crime Delicado" é inusitado e inquietante
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O crítico busca a perfeição.
Não todos, talvez, mas com certeza Antônio Martins (Marco
Ricca), o implacável crítico teatral de "Crime Delicado" (Cinemax, 0h; 14 anos), que é um
filme muito estranho.
Estranho no melhor sentido,
entenda-se: de algo inusitado e
de certa forma inquietante. Para Martins, é como se a arte, em
vez de nos aproximar das coisas, permitisse a ele continuar
longe e fora delas. A crítica é,
nesse sentido, um exercício de
poder, mas sua função é ser securizante: fixar as relações do
crítico com o mundo.
O seu encontro com Inês (Lilian Taublib) vai transtorná-lo
de maneira profunda. Ele se dá
num bar. No teatro, o olhar tem
apenas uma direção: o espectador vê o espetáculo. Num bar,
ao contrário, ele vê e é visto. É
assim que encontra Inês: sendo
examinado.
O que poderia pensar de
Inês? Falta-lhe uma perna. O
que pensam os críticos de pessoas a quem falta uma perna?
Merecem uma estrela a menos? Nesse caso, como julgar as
estátuas gregas, sempre mutiladas? Ainda assim, elas são
nosso critério de perfeição.
É entre a contemplação e o
juízo crítico que se instala Inês
na vida de Martins: é como a
obra inovadora, que transtorna
maneiras habituais de olhar.
Com a diferença de que Inês
não é uma obra de arte. Ou é?
Por que devemos sempre achar
que obras de arte são coisas
mortas? É discutindo essas coisas que Brant faz esse que é talvez seu filme mais maduro.
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