|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Atrás da fé
Cunhado de Edir Macedo, da Record, R.R. Soares é 10% do faturamento anual da Band
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Por trás dos investimentos alardeados por Record e Bandeirantes neste início de ano, há uma
silenciosa "guerra santa".
De um lado, o bispo Edir
Macedo e sua Igreja Universal do Reino de Deus
pretendem aplicar US$
30 milhões na Record
ao longo de 2004, com
novas contratações e
novelas. Do outro, o
missionário R.R.
Soares -seu cunhado e ex-parceiro- tornou-se um dos principais pilares financeiros das
mais recentes
apostas da Band.
Desde 2003, um contrato garante ao evangélico pregação no horário nobre. Valido até 2007, renderá à Band cerca de R$ 100 milhões -alívio significativo em
meio à crise do mercado publicitário. A verba anual de Soares representa ao menos 10% do faturamento da Band (que em 2003 foi
de R$ 250 mi). É mais do que as
Casas Bahia -maior anunciante
da TV- gastam no canal.
Com esse dinheiro, a Band teve
fôlego para dar novos ares à programação. Em 2003, "roubou" o
apresentador José Luiz Datena da
Record e, neste ano, anunciou a
contratação de dois globais de peso: a diretora Marlene Mattos e o
jornalista Carlos Nascimento.
Procurada, a Record não quis se
manifestar sobre o assunto. A
Band, por meio de sua assessoria,
relativizou o "peso" de Soares: "O
que faz a emissora crescer é o conjunto das 24 horas de sua programação e o faturamento que essa
grade proporciona".
O bispo da Record e o missionário da Band fundaram juntos, em
1977, a Igreja da Bênção (rebatizada de Universal do Reino de Deus,
hoje com 10 mil templos no Brasil). Foi quando conseguiram espaço na TV Tupi e criaram o conceito de "telepastor" no país.
Após três anos, um desentendimento rompeu a sociedade entre
Soares e Macedo, irmão de sua
mulher. Romildo Ribeiro (R.R.)
Soares fundou, então, a Igreja Internacional da Graça de Deus, que
hoje tem quase mil templos no
Brasil e representantes nos EUA,
no Japão e em Portugal. Possui
ainda canal de TV no MS.
A Band foi seu maior "gol" na
busca por exposição. "Estou bem
servido agora", diz Soares, que
viajou na quarta para uma "turnê" de um mês pelos EUA.
O evangélico "bate palmas" para as novas contratações da rede.
"Eles estão quebrando a máfia do
mercado, trazendo pessoal inteligente. E isso ajuda todo mundo,
desperta a concorrência."
Com voz calma e pausada, sua
marca na "telepregação", sai pela
tangente ao falar sobre sua participação nessa "retomada" da
Bandeirantes. "A meu ver, eles
acertaram em cheio em me colocar lá, pelo menos para ter uma
opção de programa à noite."
Coordenador da Igreja Universal no Congresso Nacional, o deputado federal Bispo Rodrigues
(PL-RJ) afirma que o dinheiro de
Soares ajudará a Band até ela "sair
do sufoco". "É um lucro limpo,
sem agência de publicidade no
meio." Ele, no entanto, diminui o
papel do missionário na visível recuperação da concorrente. "Ajuda, claro. Mas a Band também fechou um contrato de R$ 20 milhões com a Petrobras no final de
2002 e usa essa verba até hoje."
Para Soares, a competição entre
Band e Record é "uma coisa bonita" e não reflete uma disputa religiosa entre ele e Edir Macedo.
Rodrigues também diz não ver
na corrida por audiência uma
"guerra santa". "Não há nem concorrência por fiéis", afirma.
Texto Anterior: Programação da TV Próximo Texto: Televisão: "TV em crise chama pastor", diz bispo Índice
|