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De volta para o futuro
Profissionais avaliam como seria o cinema no país se o projeto do MinC para o setor vigorasse
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Vanguarda conceitual para uns,
filme de terror para outros. O projeto do Ministério da Cultura de
criar a Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual -para regular e fiscalizar os mercados de cinema e TV- é alvo de opiniões
opostas e centro da discussão cultural no país desde a semana passada, quando veio a público.
A Folha procurou profissionais
cujas carreiras (ou os negócios)
serão afetados caso o projeto entre em vigor e pediu que simulassem o cenário de suas atividades
com as propostas do ministério
em funcionamento.
O presidente da Cinemark, Valmir Fernandes, diz que os ingressos aumentariam em até 20% (para fazer frente às novas taxações
que a lei estabelece, para alimentar fundos de fomento à indústria
brasileira). O aumento dos ingressos leva à queda da taxa de
ocupação das salas, diz Fernandes. Maior capacidade ociosa significa necessidade de menos funcionários e suspensão dos planos
de abertura de novos complexos,
exceto os direcionados à classe A.
"Ficam mantidos os investimentos apenas em locais onde o
público paga qualquer preço, como no Shopping Iguatemi [em
São Paulo, onde a Cinemark tem
inauguração prevista para 2005].
Rodrigo Saturnino, diretor da
Columbia, que lançou "Homem-Aranha 2" no Brasil com o número recorde de 652 cópias, diz que a
estréia de filmes em mais de 200
cinemas simultaneamente passa a
ser a exceção, não a regra.
A lei prevê que a distribuidora
que queira lançar no Brasil um filme estrangeiro com mais de 200
cópias terá de pagar taxa de R$
600 mil, o que poderia reduzir a
margem de lucros da operação.
A intenção do Ministério da
Cultura com essa medida é reduzir a ocupação do filme estrangeiro, sobretudo o norte-americano,
nos 1.800 cinemas existentes no
país, abrindo espaço para o produto nacional.
Mas Saturnino enxerga conseqüência diferente. "Haverá um
intervalo de aproximadamente
três meses entre a estréia dos filmes nas principais capitais e nas
cidades do interior." A longa espera levaria ao aumento da pirataria, ágil para atender o interesse
de quem não quer esperar tanto
para ver um lançamento comentado nos grandes centros.
Mas nem tudo são previsões
sombrias. No início da cadeia
produtiva de filmes brasileiros
surge um defensor das propostas
do governo. "Nossos filmes vão
passar na TV. Essa lei vai fazer
com que haja possibilidade e visibilidade para os filmes regionais e
autorais." É a opinião do cineasta
pernambucano Cláudio Assis, 43.
Um dos artigos do projeto de lei
estabelece que as TVs firmem
anualmente com a nova agência
(Ancinav) compromisso para a
exibição de filmes brasileiros independentes e regionais.
Assis enxerga nessa proposta a
chance de "democracia nos órgãos de comunicação" e de valorização do produto brasileiro. Ele
conta que seu primeiro longa,
"Amarelo Manga" (2003), acaba
de ser comprado pelo Canal Brasil
(pertencente à Globosat) por R$
20 mil. A realização do filme custou cerca de R$ 800 mil.
Assis acha "absurdo" o preço
pago pelas televisões pelos títulos
brasileiros. "A TV não paga bem
pelos nossos filmes porque compra quase de graça o lixo americano para passar para as nossas famílias. O que está em jogo aqui é
se você se vende ou se se impõe
como povo", afirma.
Paulo Mendonça, diretor do Canal Brasil, afirma "compreender"
a frustração de Assis, mas diz que
o valor pago está acima da tabela
do canal, baseada no resultado do
filme no cinema. "Amarelo Manga" estreou com 14 cópias e fez
129 mil espectadores, "público
abaixo de sua qualidade", diz
Mendonça. Para um filme nessa
faixa de espectadores o Canal Brasil paga usualmente R$ 13,8 mil.
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