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comentário
Megaestrela ainda tenta fazer sentido
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Madonna chegou
com estrépito
no mundo pop,
mas demorou um certo
tempo para que se diferenciasse de tantos outros artistas inventados pelo então novo mundo dos videoclipes. Havia um certo
teor de escândalo interessante em "Like a Virgin",
mas tinha muita coisa
acontecendo na música
pop em 1984, 1985 para a
gente prestar atenção naquela moça de voz meio
esganiçada, que usava a
lingerie por cima da roupa
e parecia muito com aquela outra, a Cyndi Lauper.
Estávamos, aqui no Brasil, descobrindo o pós-punk, tirando o atraso do
punk, tentando acreditar
no rock nacional. Madonna, junto com Cyndi Lauper e Boy George, faziam
música informada pelos
sons da new wave diluídos
num caldo pop palatável e
cultivavam uma extravagância simpática.
Madonna foi se firmando nos programas de videoclipe. No início vendia
a imagem da "garota que
só queria se divertir", mas,
no seu caso, a diversão era
sempre e explicitamente
igual a sexo. Então, vimos
"Procura-se Susan Desesperadamente" e uma Madonna mais descolada e
insolente emergiu de lá.
O sucesso desse filme
cult -isso sim havia aos
montes àquela época, filmes que tornavam-se objetos de culto pela carga de
informação pop que detinham- transformou Madonna num ícone, em que
misturavam-se doses
iguais de pós-feminismo e
de inconsequência pop.
Mesmo que ela ainda
transitasse musicalmente
na trilha estreita daquilo
que chamávamos de
mainstream, a provocação
sexual era sua arma e, sim,
ela sabia usá-la de muitas
formas. Os clubes gays, de
onde emanava uma nova
sensibilidade para a música para dançar, adotaram
Madonna rapidamente e,
mais para o final da década
de 80, em qualquer lugar
em que houvesse uma pista, tocava Madonna.
Nos anos 90, radicalizando tanto a provocação
como a vocação para a
dance music, ela ocupou
um lugar singular dentro
do pop -o de megaestrela,
com um pé na credibilidade alternativa. Depois, a
música mudou e essas categorias deixaram de fazer
sentido. Ela, Madonna,
também mudou, mas tenta, desesperadamente,
ainda fazer sentido.
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