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Crítica/"Jornalismo e Política Democrática no Brasil"
Estudo associa imprensa ao vigor das instituições democráticas
Doutora em mídia, a jornalista Carolina Matos analisa coberturas de eleições no Brasil
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os jornais brasileiros
passam com alguma
folga pelo crivo de Carolina Matos, autora do livro
"Jornalismo e Política Democrática no Brasil". A publicação,
baseada em tese acadêmica,
conclui que "a grande imprensa
comercial contribuiu para o
avanço da democracia nas últimas duas décadas".
A jornalista, doutora em mídia pelo Goldsmith College, da
Universidade de Londres, elegeu quatro coberturas para a
sua análise: a campanha das Diretas-Já em 1984 e as eleições
de 1989 (com o subseqüente
impeachment de Fernando
Collor de Mello), 1994 e 2002.
O que emerge desse retrospecto, na avaliação de Carolina
Matos, é a evolução qualitativa
da imprensa escrita, que foi sucessivamente militante, partidária e denuncista, antes de optar pelo caminho da maior objetividade possível.
O trabalho identifica diferenças de atitude entre os veículos
de comunicação, mas nada que
comprometa a conclusão geral.
É, assim, um contraponto relevante à crítica de que os jornais,
movidos apenas por interesse
comercial, são meros reprodutores da ideologia dominante,
comportando-se como porta-vozes de uma elite unificada.
Sem radicalismo
O livro se beneficia da posição em que se coloca a autora.
Ela foge das armadilhas do pessimismo radical, em que caem
os nostálgicos da imprensa de
resistência à ditadura, e do otimismo ingênuo, em que ficam
presos os que incensam o marketing como salvação da mídia.
Ao evitar os extremos, porém, a autora não opta pela
confortavelmente morna eqüidistância. Ao contrário, compra
briga. Os críticos radicais são
considerados por ela "simplistas" por não admitirem que a
imprensa comercial tem fiscalizado o poder e funcionado como mediadora do debate público. Quanto ao mercado, ela argumenta, foi o que pavimentou
o caminho para a mídia investir
em reportagens investigativas,
aumentar o profissionalismo e
melhorar a cobertura política.
Sem independência financeira,
nada disso seria possível.
Em defesa de sua tese, a autora propõe a atualidade do comentário do filósofo alemão
Jürgen Habermas, que, referindo-se à Europa do século 19, liberou a imprensa para assumir
a "lógica do lucro", uma vez alcançada a legitimidade da esfera política pública.
Há ainda o endosso da perspectiva do australiano John
Keane, estudioso das relações
entre imprensa e democracia,
sobre o papel do mercado: "Onde não há mercados, a sociedade civil não consegue sobreviver. Onde não há sociedade civil, não pode haver mercados".
Os jornais teriam, então, importado o modelo americano?
Não totalmente, acredita a autora. A imprensa ainda reflete
simpatias e antipatias pelo
PSDB e pelo PT, conforme o caso, revelando aí um elemento
do jornalismo europeu, mais
inclinado ao partidarismo.
A obra ganharia em fluência
com uma adaptação que atenuasse a formalidade típica de
uma tese. Ainda assim, pode ser
lida com igual proveito por profissionais e leigos.
OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A
História do Brasil no Século 20" (em cinco volumes, pela Publifolha)
JORNALISMO E POLÍTICA
DEMOCRÁTICA NO BRASIL
Autora: Carolina Matos
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 49,90 (384 págs.)
Avaliação: bom
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