São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

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"Jazz tem a ver com democracia"

Trompetista Irvin Mayfield, que abre hoje o Bourbon Street Fest, diz que o gênero é difícil de se realizar

Apresentação no Ibirapuera traz momento maduro de sucessor de Wynton Marsalis, que tem incentivado a recuperação de Nova Orleans


CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em 2000, quanto veio ao país para tocar no extinto Free Jazz Festival, o trompetista Irvin Mayfield despontava como revelação do jazz moderno de Nova Orleans (EUA). Além de seu talento, trazia como credencial o fato de ser afilhado musical de Wynton Marsalis.
Aos 30 anos, Mayfield -principal atração do 6º Bourbon Street Fest, que começa hoje, no parque Ibirapuera (veja destaques nesta pág.)- se mostra mais maduro, não só como trompetista. Nos meios musicais, há quem espere que ele desempenhe o papel de líder, contribuindo para ampliar o interesse pelo jazz dentro e fora dos EUA, como Marsalis fez nos anos 80 e 90.
"O jazz é a expressão total da liberdade na música. Jazz tem tudo a ver com democracia. Como ela, o jazz não é algo fácil de realizar, mas quando você consegue fazê-lo da maneira certa, nada o supera", diz o trompetista, em um discurso que poderia ter sido de Marsalis.
Porém, quem conhece os discos ou freqüentou os shows de Mayfield, que também já esteve outras vezes por aqui com a banda de inspiração latina Los Hombres Calientes, sabe que sua concepção musical tem pouco a ver com a estética conservadora de seu mentor.
À frente de seu grupo, que inclui Vincent Gardner (trombone), Ronald Markham (piano), Neal Caine (baixo) e Jaz Sawyer (bateria), o trompetista pratica um jazz de essência contemporânea, que vai do hard bop ao soul-jazz, misturando influências do funk com toques de romantismo.

Embaixador cultural
Mayfield já despontava como líder, cinco anos atrás, quando foi nomeado embaixador cultural de Nova Orleans. Após a tragédia desencadeada pelo furacão Katrina, em 2005, quando perdeu o pai (morto por afogamento), o jovem trompetista viu seu nome e suas atribuições crescerem bastante.
"Exercer a função de embaixador cultural me ajuda a ter perspectiva mais ampla como artista; no final, a música é apenas um meio para se comunicar", diz Mayfield, que tem conseguido usar seu prestígio nos meios culturais para alavancar projetos de interesse para a reconstrução de sua cidade.
O mais ambicioso é o da construção do National Jazz Center, instituição que pretende se tornar uma referência para a preservação e difusão do gênero musical que transformou Louis Armstrong, Sidney Bechet e outros músicos de Nova Orleans em ídolos mundiais.
"O projeto está sendo finalizado. Tive uma reunião dias atrás, com o prefeito e outros dirigentes da cidade, que me deixou bastante otimista. Esperamos ver esse centro funcionando daqui a dois anos e meio", conta ele, que, após cinco visitas ao Brasil, já o considera seu "lugar favorito" depois de sua cidade, naturalmente.
"Vejo similaridades entre a cultura brasileira e a de Nova Orleans, mas o que mais adoro no Brasil é ver que seu povo gosta tanto de música quanto o povo de Nova Orleans."


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