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"Jazz tem a ver com democracia"
Trompetista Irvin Mayfield, que abre hoje o Bourbon Street Fest, diz que o gênero é difícil de se realizar
Apresentação no Ibirapuera
traz momento maduro de
sucessor de Wynton Marsalis,
que tem incentivado a
recuperação de Nova Orleans
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em 2000, quanto veio ao país
para tocar no extinto Free Jazz
Festival, o trompetista Irvin
Mayfield despontava como revelação do jazz moderno de
Nova Orleans (EUA). Além de
seu talento, trazia como credencial o fato de ser afilhado
musical de Wynton Marsalis.
Aos 30 anos, Mayfield -principal atração do 6º Bourbon
Street Fest, que começa hoje,
no parque Ibirapuera (veja destaques nesta pág.)- se mostra
mais maduro, não só como
trompetista. Nos meios musicais, há quem espere que ele desempenhe o papel de líder, contribuindo para ampliar o interesse pelo jazz dentro e fora dos
EUA, como Marsalis fez nos
anos 80 e 90.
"O jazz é a expressão total da
liberdade na música. Jazz tem
tudo a ver com democracia. Como ela, o jazz não é algo fácil de
realizar, mas quando você consegue fazê-lo da maneira certa,
nada o supera", diz o trompetista, em um discurso que poderia ter sido de Marsalis.
Porém, quem conhece os discos ou freqüentou os shows de
Mayfield, que também já esteve
outras vezes por aqui com a
banda de inspiração latina Los
Hombres Calientes, sabe que
sua concepção musical tem
pouco a ver com a estética conservadora de seu mentor.
À frente de seu grupo, que inclui Vincent Gardner (trombone), Ronald Markham (piano),
Neal Caine (baixo) e Jaz Sawyer (bateria), o trompetista
pratica um jazz de essência
contemporânea, que vai do
hard bop ao soul-jazz, misturando influências do funk com
toques de romantismo.
Embaixador cultural
Mayfield já despontava como
líder, cinco anos atrás, quando
foi nomeado embaixador cultural de Nova Orleans. Após a tragédia desencadeada pelo furacão Katrina, em 2005, quando
perdeu o pai (morto por afogamento), o jovem trompetista
viu seu nome e suas atribuições
crescerem bastante.
"Exercer a função de embaixador cultural me ajuda a ter
perspectiva mais ampla como
artista; no final, a música é apenas um meio para se comunicar", diz Mayfield, que tem conseguido usar seu prestígio nos
meios culturais para alavancar
projetos de interesse para a reconstrução de sua cidade.
O mais ambicioso é o da
construção do National Jazz
Center, instituição que pretende se tornar uma referência para a preservação e difusão do
gênero musical que transformou Louis Armstrong, Sidney
Bechet e outros músicos de Nova Orleans em ídolos mundiais.
"O projeto está sendo finalizado. Tive uma reunião dias
atrás, com o prefeito e outros
dirigentes da cidade, que me
deixou bastante otimista. Esperamos ver esse centro funcionando daqui a dois anos e
meio", conta ele, que, após cinco visitas ao Brasil, já o considera seu "lugar favorito" depois
de sua cidade, naturalmente.
"Vejo similaridades entre a
cultura brasileira e a de Nova
Orleans, mas o que mais adoro
no Brasil é ver que seu povo
gosta tanto de música quanto o
povo de Nova Orleans."
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