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CRÍTICA
A "outra" novela das oito
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Enquanto "Celebridade"
patina entre o óbvio gilbertobraguiano e um certo erotismo
de araque que tem marcado todas as novelas da Globo -muito
peito nu, muita perna de fora,
muita respiração ofegante-, o
SBT segue impávido com a sua
novela das oito, "Canavial de Paixões".
Basta um toque no controle remoto e somos transportados para um outro universo e não apenas ficcional. É curioso que, com
aquelas exceções de praxe, já
meio perdidas no tempo, como
"Pantanal", da Manchete, e "Os
Imigrantes", na Bandeirantes, as
tentativas de fazer novela da concorrência partem de uma certa
terra arrasada, ignorando as conquistas da Globo tanto na área de
dramaturgia quanto de produção. Assim, as "outras" novelas
parecem pertencer a um tempo
híbrido, em que convivem uma
certa grandiloquência do melodrama dos anos 50, um realismo
fajuto dos anos 70 e a pobreza de
espírito de sempre da TV.
É como se, para fazer novela,
não se possa nem sequer pensar
em concorrer com a Globo. O
modelo passa a ser, portanto, a
telenovela "mexicana", entre aspas porque mais do que a nacionalidade da produção, o adjetivo
indica um estilo comum à ficção
de TV de países da América Latina, como Venezuela, Colômbia
e, claro, México.
Assim, chegou-se a essa novela
produzida no Brasil, mas "mexicanizada", seja porque de fato é
uma versão de uma produção já
realizada em outro país, como é
"Canavial de Paixões", seja porque adota os mesmos procedimentos que as de fato mexicanas,
venezuelanas etc. De cara, é fácil
detectar o que elas não têm: estrelas, locações fora do país, cenários elaborados, marketing
agressivo; em suma, investimento pesado na produção. No terreno da dramaturgia, reina uma
certa simplicidade de tramas e
diálogos, mas o que de fato não
há é nenhuma espécie de tentativa de "sociologizar" a narrativa,
de representar o Brasil que marca boa parte das novelas da Globo (Glória Perez, mais uma vez, é
a exceção que confirma a regra).
Pelo contrário: em "Canavial
de Paixões", por exemplo, a história se desenvolve sem muita referência ao mundo fora da novela. Não que devesse, na verdade.
A teledramaturgia, para funcionar, prescinde da pretensão de
ser um retrato do que quer que
seja. Vejam aí o exemplo das sitcoms norte-americanas que têm,
sim, um compromisso com verossimilhança, mas não com a tarefa de construir uma imagem da
sociedade norte-americana.
E, para quem se diverte com o
equívoco do nome da novela (há
coisa mais monótona do que um
canavial?), a sucessora no horário promete ainda mais. A coluna
"Zapping", do jornal "Agora",
informa que os títulos mais prováveis para a sucessora do "Canavial" são "A Outra", "Império
de Cristal" e "Os Ricos Também
Choram". Só faltou "Os Diamantes Não São para Comer"...
biabramo.tv@uol.com.br
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