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MÔNICA BERGAMO
Uma caixinha de surpresas
Junte os jogadores mais talentosos, caros e assediados do planeta
-Ronaldo, Rivaldo, Kaká e afins- a uma torcida de meninas
eufóricas e a desocupados dos mais variados tipos. Acrescente
jornalistas dos quatro cantos do mundo, amigos de infância dos jogadores, um assessor de imprensa bonitão e com ares de pop star.
Tudo isso no mesmo lugar: a granja Comary, em Teresópolis.
Eis o cenário, os protagonistas e coadjuvantes da concentração da
seleção brasileira -que passou três dias reunida na cidade serrana
se preparando para o jogo de hoje contra a seleção do Peru.
É noite de terça-feira. No dia anterior, jornais cariocas publicaram uma foto de Milene Domingues saindo de um restaurante com outro jogador -supostamente um novo affair da
até então, ao menos oficialmente, mulher do craque. Futebol?
Que futebol? O assunto na granja foi somente um: a separação
de Ronaldo, que naquele dia
não se apresentou para treinar
(ele só chegou na quarta-feira).
"Ronaldo está se separando?
Por que ele ainda não se apresentou?", pergunta o radialista
Wellington Santos, da rádio Itatiaia, a Rodrigo Paiva, o assessor
de imprensa galã da CBF e de
Ronaldo. "A ausência dele nada
tem a ver com as fotos divulgadas. A gente sempre tratou desse assunto com a maior clareza.
O casamento dos dois está desgastado", responde Paiva.
Dois minutos depois, é a vez
de o radialista Sérgio Guimarães, da rádio Gaúcha, repetir a
pergunta. "A ausência dele nada
tem a ver com as fotos divulgadas. A gente sempre tratou desse assunto com a maior clareza...". Até o final da noite, 11 jornalistas fazem a mesma pergunta. "A ausência dele nada tem a
ver com as fotos divulgadas...",
repete Paiva, sem mudar vírgula, tantas vezes quantas forem
necessárias.
"Abafou bem", cumprimenta
Santos, da rádio Itatiaia. À essa
hora, quase 22h30, o clima na
sala de imprensa geral e na da
Rede Globo -sim, a Globo, e só
a Globo, tem uma sala exclusiva- é de ansiedade. Paiva tranquiliza: "Podem ir embora. Ele
só vem amanhã".
No dia seguinte, o primeiro
treino está marcado para as
9h30. Ronaldo não chega a tempo. "Voltamos à era dos privilégios. Isso aqui tá virando a casa
da mãe Joana!", brada o jornalista-espetáculo Jorge Kajuru,
da Band. Na ausência do craque, Kajuru foi a "celebridade"
mais assediada do dia. Incansável, foi à lateral do campo dar
autógrafos, mandou beijinhos...
"Na falta do Ronaldo vai eu
mesmo", diz o jornalista, que,
vaidoso, trocou de camisa três
vezes durante o dia. Kiyomi Nakamura, jornalista da produtora
japonesa Express, é vítima dos
repórteres brasileiros. Eles ensinaram a ela que "boiola" (que é
sinônimo de homossexual)
quer dizer "bonito", e Kiyomi
repete: "Boiola, boiola".
Os jogadores vão chegando
para o treino e dão uma paradinha na chamada "zona mista",
onde profissionais da imprensa
têm acesso aos boleiros. "Como o Peru vai entrar nesse jogo?", indaga um radialista. "O Peru é duro?", lasca outro. Custa um pouco,
mas depois de muitas risadinhas o
lateral esquerdo Junior percebe o
duplo sentido da pergunta. "É um
adversário duro, temos que respeitá-lo. Mas vamos fazer de tudo para
sair com um resultado positivo."
Os jogadores entram em campo em duplas ou em grupinhos
de três ou quatro. "Alex, cabeção!", grita um torcedor do
alambrado. O jogador balança a
cabeça, não gostou do "elogio".
"Diego, manda um beijinho para mim!", grita a menina de uns
15 anos. Ele manda. Bola rolando, os fotógrafos procuram os
melhores ângulos -com um
olho no campo e outro no portão de entrada para a granja, à
espera de Ronaldo.
A BMW prateada do Fenômeno cruza os portões às 14h20,
uma hora antes do treino.
VEM PARA MIM
O carro passa batido para o
casarão no alto de um morro
onde estão os aposentos dos jogadores (ficam dois em cada
quarto, de decoração simples,
com TV, DVD e, em alguns, videogame de última geração). A
presença da imprensa lá é proibida -ou quase: a coluna entrou e fotografou tudo.
Ronaldo trouxe o amigo de infância Aloísio Ferreira, o Borracha, com quem começou a jogar
futebol, em Bento Ribeiro. "Eu
jogava e ele me copiava", diz o
modesto Borracha (veja entrevista no quadro). Três e meia da
tarde. Os jogadores se apresentam ao técnico Parreira à beira
do campo. Quem já está lá, à espera de seu ídolo, Kaká, é Barbara do Vale, 13. Ela diz que passou a seguir a religião evangélica
por causa do jogador. "Minha
mãe só me deixou faltar à escola
hoje porque é um motivo nobre", diz a menina, entremeando as frases com "ai, ele é muito
lindo".
Depois de uma entrevista para
a TV, Kaká passa ao lado da fã.
Ela segura o craque pelo braço e
cochicha em seu ouvido: "Larga
a Carol e vem para mim". Caroline Celico, filha de Rozângela
Lyra, diretora da Dior no Brasil,
é namorada de Kaká. A quem interessar possa: a grande novidade no treino desse dia é que o
meia atacante jogou entre os titulares na posição que é de Ronaldinho Gaúcho.
Fim de tarde, o sol se põe em
Teresópolis. Os jogadores seguem de van para seus aposentos -poderiam ir de escada,
mas, como são muitos degraus,
um carro faz o percurso, poupando-os do esforço. No cronograma ainda estavam previstos
jantar, reunião às 20h e lanche
às 22h30. O toque de recolher é
sempre às 23h. No dia seguinte
começa tudo de novo. Dessa
vez, com Ronaldo presente já no
café da manhã.
bergamo@folhasp.com.br
COM CLEO GUIMARÃES (reportagem),
ALVARO LEME E LUCRECIA ZAPPI
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