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"Não tenho nenhum pudor", diz Claudia Raia
Como vilã da novela "Sete Pecados", atriz promete temperar personagem com humor
Claudia relembra, com vergonha, de cenas de sexo que fez no início da carreira, em filmes como "Matou a Família e Foi ao Cinema"
MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Engraçadinha, nome da personagem rodriguiana que mudou os rumos de sua carreira
em 1995, não é um adjetivo que
sirva para a atriz Claudia Raia,
40, cuja vida na televisão sempre foi pontuada pelo humor.
Símbolo sexual dos anos 80, ela
prefere se definir como despudorada, ousada e engraçadona.
"Eu não tenho pudor nenhum,
por isso faço humor", diz a
atriz, que encara sua 12ª novela
a partir de amanhã como a vilã
Ágata, de "Sete Pecados", escrita por Walcyr Carrasco e dirigida por Jorge Fernando.
Recém-saída de uma bem-sucedida temporada do musical "Sweet Charity", onde foi
vista por 136,5 mil pessoas, a
campineira, casada com Edson
Celulari, com quem tem dois filhos (Enzo e Sophia), analisa
sua carreira: "Foram apenas alguns vôos sem dizer a que vieram, alguns personagens que
passaram desapercebidos. Mas
é assim." Leia a seguir trechos
da entrevista.
TEATRO
Minha vida se divide em a.C.
e d.C., antes de Charity e depois
de Charity. Foi uma luta como
atriz para conseguir fazer esse
personagem, porque eu não tenho "physique" (tipo) para isso.
Ela é uma perdedora, e eu não
posso usar minhas muletas na
Charity, porque elas não servem. Ela é pequenininha, dentro de uma superprodução; são
74 pessoas. Acho que o público
que não pode pagar R$ 120,
meu público de TV, poderia me
ver também. Luto para fazer
uma temporada popular, mas
preciso de um patrocínio de R$
1 milhão e não consegui ainda.
Se eu não tiver o patrocínio,
não consigo me mexer nem
abrir o pano. É muito difícil fazer esse tipo de produção. A
gente tinha de descobrir algo
para que o governo incentivasse esse tipo de projeto, para que
houvesse maior empenho.
HUMOR
Não tenho pudor nenhum,
por isso faço humor. É gostoso
poder brincar com tudo isso.
Ágata é uma vilã, mas ela é leve,
e eu gosto de fazer vilãs. Essa leveza vem do humor, porque
ninguém é totalmente mau
nem totalmente bom. Ela pensa como ser humano e minha
insistência é em humanizá-la.
Tenho muita liberdade com o
horário das sete e com esse tipo
de humor, para esse público,
que eu conheço. Minha carreira
é muito apoiada no humor. "TV
Pirata" foi um marco. Aquela
turma cresceu, amadureceu, se
emancipou, e cada um brilha
hoje com sua própria estrela.
Faz falta aquele tipo de humor.
CARREIRA
Eu tinha dois caminhos: ou
me tornaria a bonitona e gostosona e chegaria um momento
em que eu não seria nada mais
disso, ou eu virava atriz e usava
a beleza a meu favor. É um caminho árduo, mas eu não sofro
para mostrar que não sou só
um corpo bonito e que minha
carreira não está apoiada somente nas minhas pernas. É
preciso trabalhar muito e eu
sempre usei isso [o corpo] a
meu favor. Eu achava que era
um "a mais" que eu tinha. Trabalhei muito e fui rejeitada para fazer "Engraçadinha". Fui
escondida fazer e ganhei o papel na raça; fui com a Denise
Saraceni. Eu amo o [Carlos]
Manga, mas ele achava que eu
não poderia fazer Nelson Rodrigues. Ele achava que eu não
era uma atriz rodriguiana, que
não era uma atriz dramática.
CINEMA E NUDEZ
Fiz uns três ou quatro filmes
seguidos e depois nunca mais.
"Boca de Ouro", "Kuarup", [a
atriz abaixa a voz e sussurra]
"Matou a Família e Foi ao Cinema"... [Interrompida pela Folha: Seu passado te condena?]
Esse passado me condena. A
hora em que me vi dentro de
uma banheira com uma galinha
viva, declamando poesias eróticas de James Joyce e com minha amiga da vida inteira Louise Cardoso virando canja, eu só
pensava "Por que eu estou
aqui?". Isso nos anos 80. Toda
vez que eu vejo é uma facada
para mim. Daí aparecem umas
coisas na internet: "Claudia
Raia fez isso na juventude"; sou
eu e a Louise no filme; as pessoas vêm me contar, e eu não
tenho o que fazer. Daí, falam:
"mas você tem um filho de dez
anos", e o que eu vou fazer? Vou
explicar para que é um filme?
Não me arrependo de nada. Fiz
cinco "Playboy". Se eu me arrependesse, estava morta. Acho
difícil fazer isso de novo. Mas,
se aparecer um personagem
que apareça nu, se valer a pena,
eu faço. Mas ensaio fotográfico,
agora que estou com dois filhos,
acho que não é o que eu queira
mais da vida. Tenho vontade de
voltar a fazer cinema e fazer
uma personagem linda, porque
exercitei muito pouco. Se meu
ídolo, Almodóvar, me chamasse para limpar o chão do set, eu
iria, até porque falo espanhol
bem. É um sonho.
BELEZA
Faço exercícios físicos não
para continuar um mulherão,
mas porque sou bailarina. No
que me é dado um personagem,
tento extrair dali o máximo de
complexidade. É difícil ter coragem de dar o pulo do gato e
até errar. Como eu sou uma
mulher de 1,80 m e que todo
mundo conhece, vira um puta
erro, um errão. Graças a Deus,
nunca tive um errão, algo que
pudesse dar uma borrada na
minha carreira.
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