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ARTES CÊNICAS
Ingressos sobem em média 16% em quatro capitais, segundo IBGE
Teatro ensaia crise com alta de preços e queda de público
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
E PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
"Eles deveriam pedir para a gente pagar na saída", foi a conclusão
da designer Renata Galvão, 25, ao
experimentar o sistema de "pague
quanto der", em vigor no Teatro
de Arena, em São Paulo, com o espetáculo "Arena Conta Danton".
Na bilheteria, um texto da Cia
Livre, responsável pela peça, esclarece que o valor que o espectador decidir desembolsar "é ingresso, não é contribuição". A decisão de deixar a platéia definir
quanto pagar vem da convicção
da companhia de que "há um público que quer ir ao teatro, mas
não vai por causa do valor do ingresso", como afirma a diretora
da peça, Cibele Forjaz.
A designer, que preferiria resolver na saída quanto vale(u) o
show, apostou R$ 3 no espetáculo.
"Daria mais. Mas estou lisa."
Entre o sistema "pague quanto
der" de "Arena Conta Danton" e
os R$ 135 cobrados por um bom
lugar na platéia de "Chicago", o
paulistano paga em média R$ 16
para ir ao teatro. O cálculo é de
Carlos Meceni, presidente da
Apetesp (Associação de Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo).
Em outra medição estatística do
mercado de teatro, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) identificou aumento
médio de 16% nos preços de ingressos neste ano, subida que ultrapassa com folga a variação do
IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) no mesmo período (janeiro a setembro) -5,49%.
São Paulo, porém, fica fora dessa conta, porque o IBGE realiza o
cálculo apenas nas capitais em
que o gasto com entradas de teatro tem peso significativo no orçamento das famílias. São elas: Rio
de Janeiro, onde o aumento foi de
15,99%, Recife (16,68%), Curitiba
(20,95%) e Goiânia (3,05%).
Mas, pela matemática de Meceni, há algo errado também no reino do teatro paulista. "São Paulo
tem uma oferta de 35 mil assentos/dia. A média de desocupação
é de 60%", diz o produtor, que
aponta o desafio: "A conta que se
tinha de fazer é como colocar esses 60% para dentro do teatro".
O produtor Nilson Raman, que
atua no Rio de Janeiro, diz que
"abrir a cortina, hoje, é muito caro, principalmente pelo valor de
aluguel de som e luz". O nó se fecha, segundo Raman, com a impossibilidade de repassar aos ingressos os custos de produção.
"Em 1991, quando viajei com
"Bibi in Concert", o ingresso custava [o equivalente a] US$ 25 [R$
70, valor atual]. Hoje, não consigo
passar dos R$ 40, porque o público não vai pagar."
Nem sempre o público está indisposto a encarar ingressos altos.
Segundo Meceni, os espetáculos
que detêm melhor média de ocupação em São Paulo são os que
cobram os ingressos mais altos.
Uma explicação para o fenômeno
é que esse perfil de espetáculo
conta com nomes famosos no
elenco, chamariz infalível para
platéias de alto poder aquisitivo.
É o que ajuda a explicar, por
exemplo, o sucesso de "Chicago",
que encontra espectadores dispostos a desembolsar até R$ 135
para ver Danielle Winits desempenhando como a personagem
Velma Kelly.
"Chicago" é produzido pela filial brasileira da espanhola CIE,
que se especializou na franquia de
musicais da Broadway. A CIE já
montou aqui "A Bela e a Fera"
(ingressos de R$ 40 a R$ 150), "Les
Misérables" (R$ 30 a R$ 100) e
prepara "O Fantasma da Ópera".
A reportagem tentou ouvir o
executivo da CIE Fernando Alterio sobre o mercado de teatro no
Brasil. Sua assessoria informou
que ele não daria entrevista, porque tinha viagem marcada para a
Espanha, além de uma agenda de
"reuniões e reuniões e reuniões".
A produção de "Chicago" captou R$ 2,1 milhões pela Lei Rouanet (que autoriza destinar dinheiro de Imposto de Renda a projetos culturais). Os dados são do
Ministério da Cultura (MinC),
que autorizou a empresa a captar
R$ 4,8 milhões para a produção.
Para obter a autorização, a CIE
apresentou projeto em que estima
público de "cem mil pessoas" e
diz pretender "comercializar ingressos com valores variando entre R$ 200 e R$ 40". O menor valor
cobrado pelo ingresso de "Chicago", em cartaz em São Paulo até
dezembro, é R$ 55.
A CIE-Brasil ainda poderá captar os R$ 2,7 milhões restantes,
porque a autorização do MinC só
expira no último dia do ano.
Outra opção na cartela teatral
de São Paulo, o espetáculo "Otelo" voltou ao cartaz no mês passado, no Galpão do Folias, com preço idêntico ao de sua estréia, em
2003: R$ 20.
O produtor Alexandre Brazil diz
que é possível cobrar esse valor
porque "o Folias é subsidiado
com dinheiro público para a manutenção de seu espaço". O benefício recebido do programa municipal de fomento ao teatro, segundo Brazil, ajuda a viabilizar as
montagens da casa. "Esse dinheiro paga o telefone, por exemplo.
Como eu produziria sem ele?"
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