Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TELEVISÃO
Para João Carlos Saad, evangélico que usa horário nobre é "franciscano" e relação das redes está "uma baita confusão"
Band apóia RR Soares e critica briga das TVs
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Presidente do grupo Bandeirantes, João Carlos Saad põe o dedo
na ferida: afirma que as TVs estão
completamente desunidas e que o
conflito se acirrou em razão da
disputa por empréstimo público.
À Folha, Saad criticou a Record,
que faz campanha contra a intenção do BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
Social) de custear a dívida das
TVs. "Quem financia a Record?
Com que dinheiro? De caridade?"
O presidente da Band -cuja dívida é de US$ 100 milhões- defendeu o missionário RR Soares,
que arrenda o horário nobre da
TV. "A vida dele é franciscana."
Leia trechos da entrevista em
que ele elogia Marlene Mattos, fala de Luma de Oliveira e dos investimentos da empresa num canal de música e no cinema.
Folha - Qual é a sua avaliação sobre a guerra declarada pela Record
contra o empréstimo do BNDES para pagamento de dívida das TVs?
João Carlos Saad - A Band sempre se posicionou a favor do empréstimo. Acho triste que esteja se
fazendo essa grande confusão em
torno de algo absolutamente legítimo. A colocação da Record é
muito falsa. Ela tem o Refis [programa de parcelamento de débitos tributários]. O que é isso senão
o financiamento dos tributos do
povo que ela deixou de pagar? A
Record diz que a Igreja Universal
não é sócia, apenas loca um horário. Quem financia a Record então? Quanto ela gera por mês e
quanto é posto pela igreja? Com
qual dinheiro? Da caridade?
Folha - Como ficará a Band se não
houver empréstimo do BNDES?
Saad - Seguirá seu caminho
tranqüilamente. Mas por que não
haveria, se há para outros setores?
Não consigo ver uma razão lógica.
Folha - A Record fala em independência em relação ao governo.
Saad - É uma discussão tola. A
independência está na saúde financeira, na ética, na tradição, em
saber quem é o dono. Você sabe
quem são os donos da Band, da
Globo, do SBT. Se houver algo errado, você sabe de quem cobrar.
Folha - Essa questão só acirrou o
conflito entre as TVs. A Band havia
saído da Abert (associação brasileiras de TVs) e fundado a UneTV com
Record e SBT. Depois, a Record voltou à Abert. Agora saiu de novo.
Saad - Está uma baita confusão.
Há um problema sério aí, e a TV
perde muito. Não estamos discutindo TV digital, nada. Temos um
setor fragilizado pela desunião. E
o mundo não vai ficar esperando,
a tecnologia vem avançando. É
hora de criar juízo, buscar pontos
comuns. No que houver discordância, cada um briga por si.
Folha - RR Soares tem contrato
com a Bandeirantes até 2007...
Saad - Não sei se até 2007 ou
2008. Estou feliz com ele, gosto
dele, acho um homem sério, correto. O que prega faz. É humilde.
Não o vejo com jatos, casas em tudo quanto é lugar. Não há venda
de graça no programa dele. Assista. Minha mulher é evangélica.
Folha - Ele vende livro, vende...
Saad - Vende produtos para gerir aquela máquina toda. Quando
fala da graça, não está vendendo.
Folha - No site dele, há regras para o dízimo. Ele diz que, quando o
fiel ganha um presente, deve calcular o valor e pagar o dízimo à igreja.
Saad - Vi outro dia um comerciante dizendo que ganhou x numa venda e quis dar o dízimo. O
missionário falou: "Você tem que
pensar no dízimo quando tiver
um resultado, não sobre a venda".
Fico impressionado com isso.
Folha - O sr. está fazendo uma defesa do fato de a Band arrendar o
horário nobre para um evangélico?
Saad - Uma coisa não tem nada a
ver com a outra. Só estou dando
uma opinião pessoal. Nunca ouvi
falar de nada errado. A vida dele é
absolutamente franciscana.
Folha - Mas, se a Band não precisasse, não iria arrendar nem para
Madre Teresa de Calcutá.
Saad - Possivelmente não. Mas
não tenho vergonha, pelo contrário. Acho uma boa mensagem. Ele
está pregando roubo? Não. É ruim
para a família? Não. Então para
que tanto preconceito?
Folha - Qual é a importância de
RR Soares na reestruturação financeira da Bandeirantes?
Saad - Ele nos ajudou, acelerou a
retomada da programação.
Folha - A Marlene Mattos não estaria na Band se não fosse por ele?
Saad - Pode ser que fosse mais
lento, que não fosse agora. Tudo
foi acelerado. E a Marlene é uma
grata surpresa. Ela tem humildade. Se erra, volta atrás.
Folha - E a Luma de Oliveira? Será
apresentadora da Bandeirantes?
Saad - (risos) Não sei. Preciso
perguntar para a Marlene. Eles estão fazendo pesquisa, vivendo
num ambiente criativo. Não quer
dizer que iremos acertar sempre.
Folha - E o "Fogo Cruzado", em
que o apresentador Jorge Kajuru
chamou a colega Astrid de "baranga" no ar? É um erro ou um acerto?
Saad - Não vi. Estava na estrada.
Já ouvi elogios e críticas.
Folha - Essas coisas incomodam?
Saad - Se os pré-requisitos foram feitos, pesquisa, piloto (teste), faz parte. Não é ciência exata.
São químicas que ora funcionam
ora não. A Band saiu dos esportes.
Foi difícil porque se envolveu
muito com o gênero, e os preços
de direitos de transmissão subiram em progressão geométrica.
Hoje, a Globo é o canal do esporte
(risos), e a Band, da mulher.
Folha - Quando sairá o Band News
em espanhol para países latinos?
Saad - O projeto está pronto e o
considero vital e estratégico. Mas
estamos encontrando sérias dificuldades para distribuir o canal.
Não conseguimos penetrar em
Sky, DirecTV, Telefónica, em cabo e satélite. O Brasil deveria ter
tido uma visão mais estratégica
nisso. Abriu seu mercado, mas
não negociou para fora.
Folha - TVs pagas de países latinos não têm interesse em um canal
brasileiro falado em espanhol?
Saad - Há outros interesses. O
governo americano faz artilharia
contra a Al Jazira. Por quê? Porque eles conseguiram constituir
um veículo que dá a versão deles,
não a do invasor, mas a do invadido. Nós também temos de pensar
nisso, temos de ter coisas fora.
Folha - E o canal de música?
Saad - Deve ser lançado no segundo semestre. Está definida a
parte estratégica, a programação.
A Net não sei se vai transportar [o
canal fica 45% do dia em TV aberta e 55% em fechada]. Essa é uma
discussão jurídica, porque a redação [da lei que criou esse tipo misto de canal] é dúbia e não se sabe
se ele é um "must-carry" [que as
operadoras têm obrigação de carregar]. Ou se chegará a um acordo
ou possivelmente terminará na
Justiça. Já definimos que o canal
será operado da avenida Paulista.
Folha - A Band terá sucursal lá?
Saad - Sim, queremos ter uma
base mais forte para o jornalismo
não ficar preso no trânsito, que
está um pavor [a sede da Band é
no Morumbi]. E para a parte comercial também. Estamos montando ainda uma base no centro.
Folha - A criação da Band Filmes
tem como objetivo um ganho de
imagem para a Bandeirantes?
Saad - Não, a idéia número 1 é
negócio mesmo. Pelas contas, é
um bom negócio. Imagem é um
dos pontos, mas estamos entrando como negócio e estratégia, para ir acumulando conteúdo.
Texto Anterior: Retrospectiva evidencia busca pelo público Próximo Texto: Record mantém posição e não comenta crítica Índice
|