São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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TELEVISÃO

Para João Carlos Saad, evangélico que usa horário nobre é "franciscano" e relação das redes está "uma baita confusão"

Band apóia RR Soares e critica briga das TVs

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Presidente do grupo Bandeirantes, João Carlos Saad põe o dedo na ferida: afirma que as TVs estão completamente desunidas e que o conflito se acirrou em razão da disputa por empréstimo público.
À Folha, Saad criticou a Record, que faz campanha contra a intenção do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social) de custear a dívida das TVs. "Quem financia a Record? Com que dinheiro? De caridade?"
O presidente da Band -cuja dívida é de US$ 100 milhões- defendeu o missionário RR Soares, que arrenda o horário nobre da TV. "A vida dele é franciscana."
Leia trechos da entrevista em que ele elogia Marlene Mattos, fala de Luma de Oliveira e dos investimentos da empresa num canal de música e no cinema.
 

Folha - Qual é a sua avaliação sobre a guerra declarada pela Record contra o empréstimo do BNDES para pagamento de dívida das TVs?
João Carlos Saad -
A Band sempre se posicionou a favor do empréstimo. Acho triste que esteja se fazendo essa grande confusão em torno de algo absolutamente legítimo. A colocação da Record é muito falsa. Ela tem o Refis [programa de parcelamento de débitos tributários]. O que é isso senão o financiamento dos tributos do povo que ela deixou de pagar? A Record diz que a Igreja Universal não é sócia, apenas loca um horário. Quem financia a Record então? Quanto ela gera por mês e quanto é posto pela igreja? Com qual dinheiro? Da caridade?

Folha - Como ficará a Band se não houver empréstimo do BNDES?
Saad -
Seguirá seu caminho tranqüilamente. Mas por que não haveria, se há para outros setores? Não consigo ver uma razão lógica.

Folha - A Record fala em independência em relação ao governo.
Saad -
É uma discussão tola. A independência está na saúde financeira, na ética, na tradição, em saber quem é o dono. Você sabe quem são os donos da Band, da Globo, do SBT. Se houver algo errado, você sabe de quem cobrar.

Folha - Essa questão só acirrou o conflito entre as TVs. A Band havia saído da Abert (associação brasileiras de TVs) e fundado a UneTV com Record e SBT. Depois, a Record voltou à Abert. Agora saiu de novo.
Saad -
Está uma baita confusão. Há um problema sério aí, e a TV perde muito. Não estamos discutindo TV digital, nada. Temos um setor fragilizado pela desunião. E o mundo não vai ficar esperando, a tecnologia vem avançando. É hora de criar juízo, buscar pontos comuns. No que houver discordância, cada um briga por si.

Folha - RR Soares tem contrato com a Bandeirantes até 2007...
Saad -
Não sei se até 2007 ou 2008. Estou feliz com ele, gosto dele, acho um homem sério, correto. O que prega faz. É humilde. Não o vejo com jatos, casas em tudo quanto é lugar. Não há venda de graça no programa dele. Assista. Minha mulher é evangélica.

Folha - Ele vende livro, vende...
Saad -
Vende produtos para gerir aquela máquina toda. Quando fala da graça, não está vendendo.

Folha - No site dele, há regras para o dízimo. Ele diz que, quando o fiel ganha um presente, deve calcular o valor e pagar o dízimo à igreja.
Saad -
Vi outro dia um comerciante dizendo que ganhou x numa venda e quis dar o dízimo. O missionário falou: "Você tem que pensar no dízimo quando tiver um resultado, não sobre a venda". Fico impressionado com isso.

Folha - O sr. está fazendo uma defesa do fato de a Band arrendar o horário nobre para um evangélico?
Saad -
Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Só estou dando uma opinião pessoal. Nunca ouvi falar de nada errado. A vida dele é absolutamente franciscana.

Folha - Mas, se a Band não precisasse, não iria arrendar nem para Madre Teresa de Calcutá.
Saad -
Possivelmente não. Mas não tenho vergonha, pelo contrário. Acho uma boa mensagem. Ele está pregando roubo? Não. É ruim para a família? Não. Então para que tanto preconceito?

Folha - Qual é a importância de RR Soares na reestruturação financeira da Bandeirantes?
Saad -
Ele nos ajudou, acelerou a retomada da programação.

Folha - A Marlene Mattos não estaria na Band se não fosse por ele?
Saad -
Pode ser que fosse mais lento, que não fosse agora. Tudo foi acelerado. E a Marlene é uma grata surpresa. Ela tem humildade. Se erra, volta atrás.

Folha - E a Luma de Oliveira? Será apresentadora da Bandeirantes?
Saad -
(risos) Não sei. Preciso perguntar para a Marlene. Eles estão fazendo pesquisa, vivendo num ambiente criativo. Não quer dizer que iremos acertar sempre.

Folha - E o "Fogo Cruzado", em que o apresentador Jorge Kajuru chamou a colega Astrid de "baranga" no ar? É um erro ou um acerto?
Saad -
Não vi. Estava na estrada. Já ouvi elogios e críticas.

Folha - Essas coisas incomodam?
Saad -
Se os pré-requisitos foram feitos, pesquisa, piloto (teste), faz parte. Não é ciência exata. São químicas que ora funcionam ora não. A Band saiu dos esportes. Foi difícil porque se envolveu muito com o gênero, e os preços de direitos de transmissão subiram em progressão geométrica. Hoje, a Globo é o canal do esporte (risos), e a Band, da mulher.

Folha - Quando sairá o Band News em espanhol para países latinos?
Saad -
O projeto está pronto e o considero vital e estratégico. Mas estamos encontrando sérias dificuldades para distribuir o canal. Não conseguimos penetrar em Sky, DirecTV, Telefónica, em cabo e satélite. O Brasil deveria ter tido uma visão mais estratégica nisso. Abriu seu mercado, mas não negociou para fora.

Folha - TVs pagas de países latinos não têm interesse em um canal brasileiro falado em espanhol?
Saad -
Há outros interesses. O governo americano faz artilharia contra a Al Jazira. Por quê? Porque eles conseguiram constituir um veículo que dá a versão deles, não a do invasor, mas a do invadido. Nós também temos de pensar nisso, temos de ter coisas fora.

Folha - E o canal de música?
Saad -
Deve ser lançado no segundo semestre. Está definida a parte estratégica, a programação. A Net não sei se vai transportar [o canal fica 45% do dia em TV aberta e 55% em fechada]. Essa é uma discussão jurídica, porque a redação [da lei que criou esse tipo misto de canal] é dúbia e não se sabe se ele é um "must-carry" [que as operadoras têm obrigação de carregar]. Ou se chegará a um acordo ou possivelmente terminará na Justiça. Já definimos que o canal será operado da avenida Paulista.

Folha - A Band terá sucursal lá?
Saad -
Sim, queremos ter uma base mais forte para o jornalismo não ficar preso no trânsito, que está um pavor [a sede da Band é no Morumbi]. E para a parte comercial também. Estamos montando ainda uma base no centro.

Folha - A criação da Band Filmes tem como objetivo um ganho de imagem para a Bandeirantes?
Saad -
Não, a idéia número 1 é negócio mesmo. Pelas contas, é um bom negócio. Imagem é um dos pontos, mas estamos entrando como negócio e estratégia, para ir acumulando conteúdo.


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