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TELEVISÃO
Episódio de "Linha Direta - Justiça", sobre Vladimir Herzog, e "Senhora do Destino" retomam passado recente
Fantasma da ditadura reaparece na Globo
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
Em 1975, o jornalista Vladimir
Herzog desapareceu depois que
saiu do trabalho à noite, na TV
Cultura, em São Paulo. No dia seguinte, foi encontrado enforcado
numa cela nas dependências do
Destacamento de Operações de
Informações do Segundo Exército (DOI), e sua morte foi divulgada como tendo sido um suicídio.
Em 2004, ele retorna a outra TV
-desta vez, à Rede Globo.
Herzog é o tema de edição do
programa "Linha Direta - Justiça"
que está em fase de finalização,
ainda sem data para ir ao ar. Com
a novela das oito, "Senhora do
Destino", que nos primeiros capítulos abordou a repressão militar
em dezembro de 1968, "Justiça"
torna-se um novo caso de reaparição, em horário nobre, de fantasmas da história recente do país
-em particular, a ditadura militar e temas indissociáveis a ela,
como torturas e assassinatos.
A viúva de Herzog, Clarice,
acredita que "Justiça" cumprirá
um papel fundamental na cultura
brasileira. Ela aparecerá no programa dando uma entrevista.
"Topei participar porque acho a
iniciativa importantíssima. Essa
história é muito restrita a um pessoal já conhecedor, ela tem que
ser mantida, tem que ficar na memória do brasileiro."
"Sou a favor dessa temática na
televisão; sempre é bom gerar reflexão, principalmente para o cidadão que vai entrar em contato
com o assunto pela primeira vez",
diz o historiador Marco Antonio
Villa, 49. "A questão não é entender por que a Rede Globo está falando sobre ditadura, mas sim
por que as outras emissoras não
fazem isso também."
"Hoje, a Globo mudou. Isso representa um esforço saudável em
recuperar a história", diz o jornalista Álvaro Caldas, autor do livro
"Tirando o Capuz" (1981), que relata os porões do regime militar e
foi relançado neste ano.
"Não é que a Rede Globo tenha
descoberto a ditadura agora; pode
parecer que está havendo um movimento nesse sentido, mas não
há. Tudo é uma mera coincidência", diz o diretor-geral do programa, Milton Abirached, 43.
Já em 1992, a minissérie "Anos
Rebeldes" voltava a esse período,
e o próprio "Justiça" já abordou a
ditadura, em novembro de 2003,
na reconstituição do caso Zuzu
Angel -cujo filho, Stuart, foi assassinado pelo regime.
"Quando começamos "Zuzu", eu
nem sabia que "Senhora" ia abordar ditadura. Eu já planejava o
episódio com o Herzog. É um desejo meu contar essas histórias,
criar variedades de temas."
"Linha Direta - Justiça" reconstitui crimes históricos brasileiros.
Ao mesmo tempo em que vemos
um caráter de dramaturgia -há
atores interpretando personagens
reais-, o perfil jornalístico do
programa traz entrevistas com
pessoas que estiveram, de alguma
maneira, envolvidas nos casos.
"O formato não permite romantização. Aquilo que chamamos de docudrama, de filmes como "Domingo Sangrento" [de
Paul Greengrass], é radicalizado
no "Justiça'", diz Abirached.
"Estou confiante de que será um
programa sério", diz Clarice. No
entanto, ela afirma que não assistirá ao programa. "Vai ser difícil.
Esse assunto sempre mexeu e ainda mexe muito comigo."
"Justiça" entrevistou os jornalistas Rodolfo Konder e George
Duque Estrada -que estiveram
presos no DOI-Codi na mesma
ocasião-, Paulo Markun e Mino
Carta; o então secretário de Cultura do Estado de São Paulo, José
Mindlin, e o ex-governador de SP
Paulo Egydio. Não é certo que todos os depoimentos irão ao ar, já
que o episódio ainda será finalizado. Abirached diz que, em episódios como este, é quase impossível encontrar o "outro lado".
"Os torturadores estão mortos,
mas buscamos soluções. No caso
da Zuzu, por exemplo, falamos
com a filha de um dos militares
acusados de tortura. No entanto,
ela não gostou do resultado final."
Segundo a Central Globo de Comunicação, "o Judiciário já julgou
algumas ações e todos os pareceres, sem exceção, foram favoráveis ao "Linha Direta", considerado um jornalístico responsável e
reconhecido, e que, além de tudo,
trata de casos públicos notórios".
Na parte dramatúrgica, o ator
Ilya São Paulo interpreta Herzog,
enquanto Bete Mendes faz a mãe
do jornalista, Zora. "Ela ficou
emocionadíssima, porque passou
um pouco por isso na época. Eu
estava lá gravando a cena do enterro do Herzog, e a Bete não parava de chorar. Quando a cena
terminou, ela continuou chorando", diz Abirached.
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