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Gramado consagra "Nome Próprio"
Filme de Murilo Salles em cartaz no circuito de cinema ganhou três Kikitos, entre eles os de melhor filme e melhor atriz
"A Festa da Menina Morta," estréia do ator Matheus Nachtergaele na direção, ganhou Prêmio do Júri; Oliveira ganha direção
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO
O júri oficial do 36º Festival
de Cinema de Gramado deu a
"Nome Próprio", de Murilo Salles, o Kikito de melhor filme,
na noite do último sábado. "A
Festa da Menina Morta", de
Matheus Nachtergaele, recebeu o Prêmio Especial do Júri e
os troféus de melhor filme segundo a crítica e o público. Domingos Oliveira foi o melhor
diretor, por "Juventude", "sobre o universo psicológico do
homem de 70 anos", segundo o
cineasta.
Todos os demais prêmios da
competição entre seis longas
nacionais foram atribuídos aos
filmes de Salles, Nachtergaele e
Oliveira. Os concorrentes "Netto e o Domador de Cavalos", de Tabajara Ruas, "Pachamama", de Eryk Rocha, e
"Vingança", de Paulo Pons, saíram sem troféus.
Quinto longa de Salles, "Nome Próprio" estreou no mês
passado em dez cidades brasileiras. Foi visto por aproximadamente 25 mil pessoas.
Para o diretor, os anêmicos
resultados de bilheteria do cinema nacional neste ano "não
são culpa dos filmes, mas da política". Ele cita o valor dos ingressos, "a R$ 20", e o tamanho
do parque exibidor brasileiro,
de "2.000 salas" como exemplos de que "falar em economia
do cinema no Brasil é cinismo".
Salles diz que inscreveu o filme à disputa em Gramado mesmo após seu lançamento em
circuito comercial porque sentia-se "devedor de um prêmio"
à atriz Leandra Leal. Ela vive a
protagonista Camila, jovem
blogueira que anseia escrever
seu primeiro livro, enquanto
atravessa crises amorosas.
"Nome Próprio" foi submetido a festivais estrangeiros, que
o recusaram. Salles vê na rejeição "racismo das curadorias internacionais", que enxergariam "a angústia como um problema dos brancos" e estariam
interessados apenas em filmes
brasileiros sobre a miséria econômica e social da população,
predominantemente negra.
Gramado saldou a dívida do
cineasta com Leandra Leal,
dando a ela o Kikito de melhor
atriz. "Amo ser atriz. Agradeço
muito por ganhar um prêmio
por fazer o que gosto", disse ela.
O melhor ator foi Daniel Oliveira, pela interpretação do líder religioso Santinho de "A
Festa da Menina Morta".
Quando subiu ao palco para receber seu troféu, Oliveira disse:
"Está faltando perna. Está faltando braço. Estou me sentindo aquele cara que ganhou os
50 metros rasos [o nadador
brasileiro César Cielo, medalha
de ouro em Pequim]".
O longa de Nachtergaele, que
trata da superação da dor e da
religiosidade como mecanismo
de produção de sentidos para a
vida e a morte, esteve na mostra Um Certo Olhar do Festival
de Cannes, em maio passado.
Em Gramado, o filme teve a primeira exibição pública no país.
"Está sendo bem mais bonito
do que jamais imaginei. Obrigado, Gramado", disse Nachtergaele, ao receber seu quarto e
último troféu da noite -o Prêmio Especial do Júri.
Oliveira agradeceu o Kikito
de melhor diretor citando a
acolhida que "Juventude" teve
da platéia -a mais calorosa do
festival. "A emoção que tive no
dia em que o filme passou aqui
foi inédita", afirmou.
Na disputa entre os cinco
longas estrangeiros, o vencedor
foi o mexicano "Cochochi",
produzido pelo ator Gael García Bernal e dirigido por Israel
Cardenas e Laura Guzman.
A crítica elegeu o colombiano
"Perro Come Perro" (cão come
cão), e o público, o argentino
"Por sus Propios Ojos" (com
seus próprios olhos).
No Festival de Gramado, o
júri popular não é formado pela
totalidade da platéia das sessões competitivas, mas sim por
um colegiado de 14 leitores de
jornal, selecionados em diversos Estados.
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