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Crítica
Adaptação é fiel a traços do original
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O Agente 86 será
lembrado como a
melhor idéia cômica que já ocorreu a Mel
Brooks. Em 1965, quando
estreou a série de TV, a
idéia vinha a calhar, num
mundo dominado pela
Guerra Fria e pela febre
James Bond.
O que o Agente 86 tinha
de original é que não era
um tipo burro, como muitos. Havia nele um quê de
Buster Keaton (com o perdão da palavra): um sujeito
um pouco excêntrico, mas
disposto a lutar com as adversidades do mundo.
"O Agente 86", o filme
de 2008, tem o bom gosto
de preservar essas premissas básicas. Se a Guerra
Fria acabou, foi substituída por um mundo em que
os perigos podem vir de toda parte. Uma boa paródia
deve lidar com as ambiguidades próprias à espionagem (o que quase nenhum
filme do gênero faz, diga-se de passagem), mas não
se entregar a elas.
Um bom exemplo foi
"True Lies", de James Cameron, em que o centro
das atividades do espião
era sua relação com a própria mulher, que não acreditava nele. Estávamos,
ali, numa comédia sofisticada. Em "Agente 86" o registro é antes burlesco.
E a primeira e sábia decisão foi encontrar um
bom par principal. Steve
Carell moderniza e desenvolve o tipo criado por
Don Adams na série de TV.
Sabe viver situações cômicas sem rir para o espectador. A seu lado, Anne Hathaway atualiza o tipo
criado por Barbara Feldon
como Agente 99. Como
entre os dois logo uma paquera se insinua, não chegamos a estranhar: Carell
pode não ser o galã dos galãs, mas está longe de ser
repulsivo. Os coadjuvantes se destacam: Alan Arkin como o chefe da
C.O.N.T.R.O.L. e Terence
Stamp como o cérebro da
K.A.O.S. são escolhas impecáveis.
No mais, o pouco brilhante Peter Segal parece
ter sido um fã da série de
TV em outros tempos, o
que faz com que invista na
fidelidade ao modelo original. Nada das ousadias
de um Brian de Palma, por
exemplo, quando fez "Os
Intocáveis". Mas a modéstia, no caso, é prudente.
O resto fica por conta do
roteiro. E os roteiristas parecem se divertir bastante
quando escrevem comédias, o que leva o espectador, com facilidade, a se divertir com eles. No caso, limitam as ações "espetaculares", isto é, estufadas até
o pescoço de efeitos especiais, e investem nas relações entre os personagens
como fonte de humor.
Trata-se de um produto
industrial. Mas dentro dos
parâmetros, "Agente 86" é
uma diversão agradável.
AGENTE 86
Produção: EUA, 2008
Direção: Peter Segal
Com: Steve Carell, Anne Hathaway, Alan Arkin e Dwayne Johnson
Onde: estréia amanhã nos cines Anália Franco, Bristol, Eldorado e circuito; 12 anos
Avaliação: bom
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