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Exibidor aposta em 3D e projeção digital
Donos das salas de cinema investem em novas tecnologias para tirar o espectador da frente do vídeo e da internet
Mercado cinematográfico avalia que comportamento do público mudou, mas que a queda na freqüência tem a ver com a qualidade dos filmes
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os cinemas brasileiros viram
seu público diminuir 11,3% no
primeiro semestre deste ano,
em relação a igual período de
2007, segundo dado divulgado
nesta semana pelo portal Filme
B, especialista nesse mercado.
Donos das salas de exibição
não vêem esse número como
indício do começo do fim de
uma era, mas estão certos de
que ele quer dizer alguma coisa.
Que faltou apelo popular aos
filmes da safra é a avaliação recorrente entre profissionais do
mercado ouvidos pela Folha.
"O público está em queda por
causa da qualidade do produto.
Da mesma maneira que não
gostaram tanto do filme estrangeiro, os espectadores gostaram menos ainda dos longas
brasileiros lançados", diz o distribuidor Jorge Peregrino, da
Paramount. (Confira no quadro à direita os números que
apontam a queda mais acentuada do produto brasileiro.)
Filme popular
"Não é à toa que o cinema
brasileiro cai mais do que o estrangeiro. O Brasil não tem
uma indústria de filme popular.
O título popular aparece uma
vez aqui e outra depois de dois
anos", afirma Rodrigo Saturnino Braga, do estúdio Sony.
Além do fator circunstancial,
no entanto, há outras razões
por trás do desinteresse do espectador. "Não tenho dúvida de
que existe uma mudança de
comportamento do consumidor brasileiro", afirma Marcelo
Bertini, presidente da Cinemark, rede líder no país.
É plano da Cinemark para os
próximos cinco anos "continuar crescendo nas grandes capitais e em outros pontos que
forem surgindo, numa razão de
cinco a seis complexos por
ano", segundo Bertini.
Os futuros complexos da rede deverão manter os moldes
de funcionamento dos atuais e
ser superiores a eles na tecnologia de projeção dos filmes.
"Ninguém pode pensar em
abrir sala de cinema no Brasil,
se não tiver a perspectiva de, a
médio prazo, transformar o seu
circuito em [projeção] digital e
investir pesadamente em cinema 3D", afirma Bertini.
Essa transformação seria o
"pulo do gato" das salas de cinema para vencer, pela qualidade
da imagem, a concorrência com
o entretenimento doméstico
-DVD e internet. "A evolução
tecnológica é uma resposta que
o cinema oferece para se distinguir de qualquer oferta similar
que possa haver. Se você montar um "home theater" na sua
casa, o cinema tem que ser diferente", diz Adhemar Oliveira.
Oliveira é sócio das redes Espaço Unibanco e Unibanco Arteplex. Ele abriu, há um mês e
meio, outras dez salas, num novo shopping de São Paulo. É lá
também que ele deve inaugurar
neste semestre uma franquia
da rede Imax, que projeta filmes em 3D numa tela gigante.
"Estão sendo abertas salas
onde elas já existem. Com isso,
você beneficia quem já é freqüentador de cinema, mas não
aumenta a base de espectadores", diz Vera Zaverucha, superintendente de Acompanhamento de Mercado da Ancine
(Agência Nacional de Cinema).
Para Oliveira, de fato, "não há
política nenhuma de expansão
de salas desvinculada da política de expansão dos shoppings".
Nas negociações que mantém atualmente com operadores de shopping para instalação
de cinemas, o distribuidor e
exibidor Otelo Coltro, do selo
Playarte, inclui a sala 3D como
uma vantagem comparativa,
mas pela qual é preciso pagar
um custo de instalação elevado.
"Nos EUA, um projetor 3D
custa nove ou dez vezes mais
que um projetor de [película]
35 mm. No Brasil, com os impostos de importação, fica muito pesado fazer o investimento
em larga escala, sem parcerias
ou patrocínio", diz Coltro.
A resposta do espectador ao
investimento é animadora.
Quando lançou, neste mês, a
ficção científica "Viagem ao
Centro da Terra", Coltro viu o
filme alcançar média de 800 espectadores por cópia nas salas
2D, no fim de semana de estréia, e de 3.000 espectadores
por cópia nas salas 3D.
Dado o sucesso, o distribuidor vem "buscando novos filmes para lançamento em 3D".
Agendou mais dois títulos para
este ano, mas enfrenta o fato de
que Hollywood ainda não produz em escala industrial nesse
formato, embora o incremento
das salas dos EUA para as tecnologias digital e 3D seja uma
prioridade daquela indústria.
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