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Crítica
Em "Hércules", o tempo desgasta o heroísmo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Existe algo de profundamente triste em "Hércules 56"
(Canal Brasil, 22h; livre), que
talvez tenha escapado às intenções do diretor, Silvio Da-Rin,
mas não escapou das câmeras.
Para Da-Rin, talvez a matéria
essencial do filme seja o heroísmo dos ativistas políticos expatriados após um seqüestro, em
1969. Para o filme, a matéria
essencial é o tempo.
Entre o fato e o depoimento
dos então expatriados existem
quase 40 anos. As cabeças tornaram-se grisalhas. O heroísmo esvaneceu-se. Muitas dessas pessoas agora estão no poder, ou o cortejam -tanto faz.
A luta contra a ditadura e
suas durezas, prisão, tortura
etc. estão nos relatos, nas palavras, é verdade. Mas sua força
perde-se nos vãos do tempo.
Não é que o esforço de Silvio
Da-Rin não tenha mérito, nem
interesse. Tem. É que, por um
lado, revolucionários não deviam envelhecer: a vida fora do
mito os castiga. E, quando a
matéria é memória e tempo, logo pensamos em Alain Resnais.
Revolucionários não deviam
envelhecer.
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