|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Excesso de sexo caminha para o tédio
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Nem bem começou, a nova
novela das oito vem causando um pequeno escândalo
com a quantidade de sexo e nudez mostrada. Para além das estratégias ditas inovadoras que
cercaram a estréia de "Celebridade", a volta que se anuncia triunfal de Gilberto Braga ao filé mignon das novelas não deixou de
lançar mão do velho e bom apelo
erótico para garantir os picos de
audiência.
Só no primeiro capítulo, "Celebridade" exibiu um topless e
duas cenas de sexo. Mas, menos
do que a quantidade, a falta de
papas na língua parece ser a marca de Braga nessa nova ordem sexual televisiva. O autor, que parece acreditar mais em roteiro e
história de que seu pares (e, como observou um amigo, leu Balzac), está usando o sexo a serviço
de sua trama.
Faz parte, digamos, da construção do personagem já anunciar
que tipo de sexo ele faz. Em "Celebridade", garotas boas fazem
sexo com amor; garotas más fazem sexo com perversão e garotas nem boas nem más fazem sexo por necessidade ou cálculo.
Resta, entretanto, a enervante
questão da exposição.
Romantismo
As telenovelas, que guardam
uma relação bastante íntima com
a liberalização dos costumes
operada na sociedade brasileira
dos anos 60 para cá, vêm arriscando mais e mais no sentido da
exposição.
Não basta, como nos tempos
de um romantismo mais ingênuo, encenar a paixão -é preciso mostrá-la. Mais ainda do que
o sexo, é necessário exibir os corpos perfeitos e fixá-los como objetos de desejo: mulheres magras
e de musculatura definida, homens atléticos e bombados.
O que se deixava à imaginação
febril dos telespectadores à época
que Sonia Braga subia no telhado
de vestidinho curto de chita, hoje
acontece sob luzes acesas, como
na primeira cena de "amor" da
novela, entre a boa moça Maria
Clara (Malu Mader) e o príncipe
encantado Otávio (Thiago Lacerda), que mostrou a calcinha da
protagonista em primeiro plano.
Padrões
O efeito é menos erótico do que
pedagógico -como não há mais
espaço para a fantasia completar
o que está sugerido, trata-se de
oferecer um modelo a ser perseguido. O que se reforça com a insistência obsessiva não na sensualidade, mas na correção estética dos corpos.
A perfeição cosmética dos corpos é a isca: assim como o peito
deve ser grande, a bunda empinada, o torso musculoso etc., a
sexualidade deve ser programaticamente feliz, bem sucedida -e
neste caso estamos falando de
sujeitos ajustados, do bem. Como se a TV estivesse dizendo a
cada um como viver a sexualidade e, sobretudo, o que ela deve
significar. Moral à parte, a exposição reiterada de nudez e sexo
na TV caminha em direção à banalização e ao embotamento dos
sentidos -em resumo, ao tédio.
@ - biabramo.tv@uol.com.br
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: A voz das ruas Índice
|