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Televisão/Crítica
Filme é paralelo para nossa precariedade
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
De vez em quando algo acontece para nos lembrar o precário do mundo. Há dias, todos
estávamos felizes, em São Paulo, prontos para a rotina diária
de ligar o computador. Mas os
computadores conectados ao
Speedy não respondiam.
Não importa o motivo por
que isso aconteceu, na hora me
fez lembrar de "Confidências
à Meia-Noite" (TCM, 18h05;
classificação indicativa não informada), no qual a decoradora
Doris Day e o músico Rock
Hudson dividem uma linha telefônica. Ela é mulher muito
séria. Ele é mulherengo e vive
falando com as namoradas pelo
telefone, para desespero dela.
O rapaz vai se aproveitar dessa situação e provocar situações que só a precariedade do
serviço telefônico poderia propiciar, fazendo-se passar por
um caipira sulista cujos modos
deixarão a garota encantada.
O filme de Michael Gordon
ainda hoje se deixa ver, talvez
porque nos lembra das possibilidades que a natureza precária
das coisas (por mais que se sofistiquem) nos abrem. Conheço gente que se conheceu e se
casou graças às linhas cruzadas
do século passado.
Hoje o mundo se move com a
internet e não há dúvida de que
uma pane dessa natureza pode
representar uma catástrofe. No
entanto, a supressão do estado
"on-line", ao nos atirar subitamente no túnel do tempo, no
passado, não terá aberto a possibilidade de olhar esse mundo
não virtual que hoje parece ter
se tornado quase uma entidade
fantástica?
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