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Teatro de câmera
"Fotografia de Palco", de Lenise Pinheiro, lançado hoje na Bienal do Livro de São Paulo, retrata a trajetória do teatro paulistano nos últimos 25 anos por meio de personagens, cenas e bastidores
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Clique!"
Um ruído simples e fugaz assim pode causar uma grande
crise, quando interrompe a
concentração de um diretor
teatral ou de um grupo em pleno ensaio. Mas também pode
ser o responsável por guardar
vivo um momento efêmero,
quase único, em que um personagem se revela a partir dos detalhes que o caracterizam.
"As minhas melhores fotos
foram uma coisa de segundos,
instantes captados de repente
quando um gesto se apresentou
diante da câmera sem que eu tivesse tempo de pensar muito",
conta a fotógrafa e colaboradora da Folha Lenise Pinheiro,
48, há pelo menos 25 anos dedicada a retratar os palcos e
bastidores do teatro de SP.
"Fotografia de Palco", com
lançamento hoje na 20ª Bienal
do Livro de São Paulo (leia à
pág. E4), é o resultado desse
trabalho de um quarto de século de movimentações por trás
dos palcos e sobre eles. "Muitas
vezes as condições para fotografar uma obra, em construção ou já pronta, são difíceis. O
barulho do "clique" da máquina
atrapalha, ou minha presença
altera a espontaneidade dos
atores. É comum eu ter de me
movimentar silenciosamente
por algum tempo até encontrar
o melhor enfoque e ao mesmo
tempo ser imperceptível para
os que estão trabalhando", conta a fotógrafa.
Pinheiro começou a trabalhar com fotografia nos anos
80. Após abandonar as faculdades de arquitetura e comunicação, passou a fazer e vender fotos para atores, pois na época
era comum que fossem comercializadas ao final dos espetáculos. Assim foi se metendo no
meio artístico, onde hoje é conhecida amplamente.
"Lenise surgiu num momento muito importante do renascimento do teatro em São Paulo", diz o diretor teatral José
Celso Martinez Corrêa, 71, cujos projetos das últimas duas
décadas foram registrados pelas lentes da fotógrafa.
"Nos anos 80, o teatro não
atendia às necessidades de expressão da sociedade. A ditadura estava acabando e não sabíamos o que podíamos fazer. Encenavam-se textos importados,
havia receio", lembra Pinheiro.
Colega de geração, o ator, cenógrafo e figurinista Leopoldo
Pacheco, 47, lembra o agito que
começou a acontecer no período. "Formávamos um grupo
que queria mudar o modo como o teatro era feito. Acho que
aquilo que começamos lá atrás
explica em parte essa proliferação de peças nos nossos dias.
São Paulo se transformou numa usina de teatro, e Lenise fotografou essa transformação
desde aquela época até hoje."
Zé Celso concorda com essa
explosão de sucesso da cena
teatral local. "É um fenômeno
que a cidade não percebeu. Se
estivesse acontecendo no Rio
ou na Bahia, teria mais visibilidade. Esse livro não é só um documento, ele traz um passado
vivo que retrata nossos dias, o
futuro e vai ajudar a fazer cair a
ficha aos paulistanos de que
seu teatro está em ascensão."
Começo
Os primeiros trabalhos de relevo da fotógrafa acompanharam a volta de Zé Celso do exílio. O primeiro trabalho foi "As
Boas", de Jean Genet, no Centro Cultural São Paulo, em
1991. Mas foi em 1993, no reinaugurado Oficina Uzyna Uzona, com a montagem "Ham-let", de Shakespeare, que Pinheiro se vinculou ao grupo,
que nunca mais abandonou.
Em "Fotografia de Palco", vários momentos do grupo estão
registrados. Além dos mencionados, figuram as recentes encenações das diversas partes de
os "Sertões" e "Cacilda!".
Em 1998, começou a relação
com a imprensa, e Pinheiro
passou a publicar regularmente fotos na Folha. Com isso, teve de mudar um pouco seu estilo. "Foi necessário adaptar o lúdico à linguagem de jornal."
Com 571 fotos, o livro divide-se nos blocos: camarim, ensaios pessoais, figurinos, cenários, iluminação e cenas. "Ia
usar uma ordem cronológica,
mas optei por dividi-lo nas partes que compõem uma peça,
desde o que vai por trás do palco até a obra finalizada", diz.
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