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Wim Wenders diz que Glauber lhe revelou o Brasil
Em palestra em Porto Alegre, diretor alemão defende cinema com "sentimento forte de pertencimento local"
Além de Glauber Rocha,
o cineasta cita entre suas principais influências o japonês Yasujiro Ozu e o norte-americano John Ford
DO ENVIADO A PORTO ALEGRE
O cineasta alemão Wim
Wenders fez anteontem, em
Porto Alegre, a defesa de um cinema "com forte sentimento
de pertencimento local", saído
de culturas específicas, distinto
de uma produção hegemônica
que narra histórias "que poderiam acontecer em qualquer lugar", filmados em um mundo
sem identidade, "diante de uma
tela azul".
"Esse tipo de produção internacional anônima me entedia à
morte", disse Wenders, durante sua palestra no ciclo Fronteiras do Pensamento, para cerca
de 1.300 pessoas que lotavam
um teatro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), na capital gaúcha.
Os cineastas que mais o influenciaram, afirmou, tinham
esse forte "sentimento local",
entre eles o japonês Yasujiro
Ozu (1903-1963), o brasileiro
Glauber Rocha (1939-1981) e
mesmo o norte-americano
John Ford (1894-1973).
País metafórico
Sobre o brasileiro, Wenders
afirmou que foi só com Glauber
que o Brasil deixou de ser, para
ele, "um país metafórico". "Antes, não era um país, era uma
invenção, um estado de espírito. Um louco estado de espírito.
Bem, não estava tão enganado",
falou, para risos da platéia.
Em contraste, Wenders disse
que ele próprio não chegou a
ter "pais simbólicos" na Alemanha em que nasceu, logo após a
Segunda Guerra.
"Era um país devastado e
sem esperanças. Os alemães
acumulavam vergonha sobre os
ombros. Desde quando posso
lembrar, queria deixar o país.
Assim, tornei-me um viajante.
É minha vocação e minha profissão", afirmou na palestra.
Foi só depois de "viajar bastante", disse, que se reencontrou com a Alemanha. E, mesmo filmando fora de seu país,
tentou "em cada lugar contar a
história que não poderia acontecer em nenhuma outra parte". De volta a Berlim, filmou
"Asas do Desejo" (1987), em
que, segundo ele, a própria cidade ditou a forma do filme.
"Não conseguia encontrar os
personagens que me mostrassem a cidade em toda a sua
complexidade. Quando parei
de pensar na história e olhei em
volta, vi essas imagens de anjos
ao redor. Aceitei a dica da cidade e escrevi no meu caderno de
anotações: "Anjos da guarda?'",
descreveu.
(RAFAEL CARIELLO)
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