|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Irmãs Milhazes retomam parceria
Espetáculo coreografado por Márcia tem cenário criado por Beatriz; "sociedade" começou na infância, como brincadeira
Folha acompanha encontro
da família Milhazes no ateliê
de Beatriz, no Rio, antes da
estréia de "Meu Prazer", que
acontece hoje, em São Paulo
ADRIANA PAVLOVA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Na infância, era só diversão.
Bola e Bolinha passavam horas
brincando de teatro. Fantasiavam-se de bonecas e inventavam histórias. Na platéia, apenas seus pais -quando muito.
Depois da adolescência, a
brincadeira ficou mais séria. O
teatro havia virado um palco de
verdade para Bolinha, uma bailarina recém-formada, mostrar
seu primeiro espetáculo, "Dançando Villa-Lobos". Bola, uma
pintora iniciante, deu sua contribuição: fez o cenário e criou
os figurinos.
Hoje, mais de duas décadas
depois do primeiro espetáculo
profissional, Márcia Milhazes
(Bolinha), 47, e Beatriz Milhazes (Bola), 48, voltam a unir
seus talentos de coreógrafa e
pintora, como acontece sempre
que a parte dançante das irmãs
tem um novo trabalho.
Em "Meu Prazer", que estréia hoje no Sesc Consolação,
em São Paulo, os quatro bailarinos da Márcia Milhazes Companhia de Dança desfiam uma
torrente de sentimentos amorosos. No fundo da cena, suspenso, há um jardim repleto
das mesmas flores e mandalas
coloridas que tornaram Beatriz
Milhazes uma das artistas brasileiras mais disputadas pelo
mercado internacional.
"Somos uma família unida",
dizia Márcia, há uma semana,
num encontro familiar testemunhado pela Folha, no ateliê
de Beatriz -uma charmosa casa no Horto, no Rio.
A pintora também elogiava:
"Família a gente não escolhe,
por isso me sinto privilegiada
de ter uma com a qual partilho
tudo no meu dia-a-dia", disse
Beatriz, madrinha do único
herdeiro da família, Thomaz
Camilo, 7, filho da coreógrafa.
Domingo no museu
As duas irmãs e a mãe (Glauce, 69, professora de história da
arte aposentada, que hoje produz os espetáculos da filha coreógrafa) rememoraram histórias como a dos personagens
Bola e Bolinha, apelidos de infância que se mantêm até hoje
(o pai, José, com 73 anos, advogado, é o Bolão).
Mas, sobretudo, tentaram
explicar como, não tendo nenhum outro artista na família,
transformaram-se em expoentes da arte que escolheram.
"Elas viveram a ebulição cultural dos anos 60 e 70. Nós as
levávamos para ver Bethânia
no teatro Casa Grande, mas
também passávamos domingos
inteiros na recreação do Museu
de Arte Moderna, onde, não era
raro, Lygia Clark estava criando", conta Glauce.
"Meus pais sempre amaram
ser brasileiros. Isso talvez explique a brasilidade que as pessoas vêem nos nossos trabalhos. As cores da obra da Bia ou
as trilhas dos meus espetáculos
[Márcia garimpa obras brasileiras históricas] têm a ver com isso", diz Márcia.
Em "Meu Prazer", o jardim
colorido e a trilha formada por
uma colagem de piano solo e
acordeão -há apenas uma música com voz, "Misterioso
Amor", com Francisco Alves-
são o contraponto a um balé
dramaturgicamente intenso.
"Há uma mulher que conduz
o espetáculo. É como se ela estivesse lendo cartas de amor e,
mergulhada num mundo dos
sonhos, fosse descobrindo outros personagens, seus sentimentos e desejos. Tudo muito
intenso, mas com poesia", afirma Márcia.
O curioso é que, mesmo tão
próximas, Beatriz jamais assiste aos ensaios dos espetáculos
da irmã. Ela cria sua parte a
partir de conversas. Mesmo assim, o cenário é parte fundamental da dança.
"Ela criou uma flor para cada
bailarino, e uma das intérpretes dança boa parte do tempo
no meio do jardim", conta Márcia, que, no próximo ano, pretende criar uma instalação com
a irmã para ser apresentada em
um museu. Afinal, Bola e Bolinha ainda têm muito a fazer
juntas.
MEU PRAZER
Quando: estréia hoje, às 21h; ter., qua.
e qui., às 21h; até 28/8
Onde: Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/3234-3000)
Quanto: R$ 5 a R$ 20
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos
Texto Anterior: Marcelo Coelho: A doce morte de Dorival Caymmi Próximo Texto: Cenário será instalação em Bienal Índice
|