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Dercy será enterrada com festa em sua cidade natal
Com samba feito em sua homenagem pela escola Unidos da Viradouro, em 1992, último velório e enterro acontecem amanhã em Santa Maria Madalena (RJ)
Mais de 600 pessoas foram ontem ao velório no Rio; Marília Pêra disse que a atriz foi "fonte de muitas vertentes atuais" do teatro
FABIANE ROQUE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO
Paetês dourados, maquiagem e peruca impecáveis. Foi
assim que o corpo da comediante Dercy Gonçalves foi velado ontem na sede da Assembléia Legislativa do Estado do
Rio de Janeiro (Alerj). O livro
de presença registrou a vinda
de mais de 600 pessoas. O corpo da atriz chega hoje à sua cidade natal, Santa Maria Madalena (a 223 km do Rio), onde será recebido com festa.
Como era o desejo da própria
Dercy, no lugar de marcha fúnebre, a trilha sonora do velório será o samba-enredo feito
em sua homenagem pela escola
de samba Unidos da Viradouro,
para o desfile de 1992.
O corpo será enterrado amanhã para coincidir com os festejos pelo dia da padroeira da
sua cidade. Dercy costumava
participar do culto e teria dito
que gostaria de morrer no dia
da padroeira.
A comediante morreu no sábado, aos 101 anos, no hospital
São Lucas, no Rio, vítima de
uma pneumonia.
No velório de ontem, familiares e amigos destacaram sua
alegria e irreverência durante a
vida. Amigos da velha guarda,
como as ex-vedetes Virgínia
Lane, Ester Tassitano, o compositor Billy Blanco e a cantora
Adelaide Quioso.
A única filha, Dercimar, encarou a a morte da mãe como o
fim de uma longa jornada cheia
de conquistas e que por isso
não havia motivo para tristezas. Ela destacou que Dercy
conseguiu viver para receber
toda a recompensa de sua luta e
seu trabalho.
"Ela resgatou tudo. Isso aqui
não é um momento infeliz.
Tem tudo isso, todo mundo
prestigiando. Acho que isso
conforta a ela e a mim também", declarou Dercimar.
A atriz Marília Pêra, que dirigirá a peça "Dercy por Fafy",
em homenagem à atriz, prevista para estrear em março do
ano que vem, destacou a influência de Dercy para o teatro
brasileiro.
"A Dercy deixou para a gente
um estilo novo. Foi ela que
transformou o teatro brasileiro
no que ele é. Ela é a fonte de
muitas vertentes atuais", afirmou a atriz.
Marília acrescentou que sua
primeira lembrança ligada a
Dercy é de ainda pequena,
quando seu pai (Manoel Pêra,
que também era ator) comentou em casa sobre uma nova
atriz muito corajosa.
"Ela dizia palavrões em uma
época em que atriz tinha que
tomar cuidado para não ser vista como prostituta. Brigava
corpo-a-corpo com os censores; quebrava todas as regras do
comportamento feminino no
teatro", lembrou Marília.
Além dos palavrões
Os amigos mais próximos
lembraram que, na vida pessoal, Dercy era alguém que ia
muito além dos palavrões que
inúmeras vezes repetia publicamente.
"Muito mais importante do
que a caricatura da Dercy é a
Dercy revolucionária, uma artista incrível, sempre solidária
com os colegas de trabalho",
afirmou o ator Stepan Nercessian, presidente do Retiro dos
Artistas, diversas vezes visitado
pela comediante.
O caricaturista Ziraldo, que a
entrevistou em um momento
de relançamento do jornal "O
Pasquim", apontou a morte de
Dercy como um pedaço do século 20 que acaba:
"Um século não acaba em um
dia, acaba aos poucos. Com a
morte da Dercy, ele acaba quase completamente".
O cantor Agnaldo Timóteo,
que também foi prestar sua última homenagem à comediante, disse que Dercy "brincou
com a vida".
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