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CRÍTICA
"Celebridade" é novela à antiga
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Até agora, o melhor que se
pode dizer sobre "Celebridade" é que, ao contrário das novelas que a precederam, Gilberto
Braga ainda acredita em roteiro.
Não passa uma semana sem que
as revistas e sites sobre TV noticiem reviravoltas da trama e arrisquem especulações sobre os
destinos das personagens.
As últimas novelas pareciam
sugerir que um novo tipo de ficção seriada para TV estava se firmando. Em tudo assemelhadas
às novelas tal como as conhecíamos antes, a nova novela, aquela
praticada por Manoel Carlos e
Glória Peres, prescinde de uma
história. Baseadas em situações
circulares e tensão quase zero,
novelas como "Mulheres Apaixonadas" e "O Clone" envolvem
o espectador num tempo e espaço vazio de acontecimentos -e,
portanto, de motivações e psicologia do personagem.
"Celebridade", perto desses
dois exemplos, sofre de uma espécie de hiperatividade. Já teve
sequestro frustrado, casamento
idem, volta do filho pródigo, reconciliação de sogro e genro,
morte de filho, encontros amorosos ardentes etc. Mas o principal é que tudo isso parece obedecer a uma lógica ditada pelas
ações e motivações das personagens.
É por isso que a novela vem
suscitando diversas interrogações sobre o andamento da trama, que acabam por ser objeto
das explicações as mais estapafúrdias. Afinal, por que Laura
(Claudia Abreu, excelente, por
sinal) quer tanto destruir Maria
Clara Diniz (Malu Mader)? Renato (Fábio Assunção) e Laura
vão se aliar para destruir a inimiga comum? Como Ubaldo (Gracindo Júnior) vai se vingar de Lineu (Hugo Carvana)?
Velha escola
No formato recente que anda
se impondo às novelas, diminuem de importância os fios
condutores da trama e as motivações dos personagens, como se
os autores quisessem deixar uma
e outro "abertos" o suficiente para modificá-la ao sabor dos índices de audiência.
Braga, não. Braga ainda é da velha escola do folhetim -não por
acaso, "Celebridade" tem um
quê de retrô, de viagem a tempos
(melhores) da teledramaturgia e
da televisão.
Curioso é que essa impressão
de anacronismo perpasse toda a
novela. O Andaraí cenográfico
está parado em algum lugar entre
o final dos anos 60 e os anos 70.
Tem algo dos anos 50 no fato de
Maria Clara Diniz não morar sozinha e, sim, com a mãe e a irmã
casada. Da mesma década é a
música-tema de Fernando (Marcos Palmeira) e Maria Clara,
"Ruby", sucesso dos anos 50 regravado por Ray Charles em
1960. Cenas picantes de Cláudia
Abreu e Márcio Garcia acontecem ao som de "Sympathy for
the Devil", faixa lançada pelos
Rolling Stones em 1968, no disco
"Beggar's Banquet".
Resta saber se a novela à antiga
de Braga ainda tem lugar na TV
contemporânea.
E-mail: biabramo.tv@uol.com.br
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