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Revelação do jazz dos EUA virá a SP e ao Rio
Contrabaixista e cantora Esperanza Spalding se apresenta no Tim Festival
Aos 23 anos, ela acumula elogios de publicações especializadas e é professora da conceituada Berklee College of Music
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Há tempos não se via uma artista revelada no cenário do
jazz despertar tanto interesse.
A reação de David Letterman, o
mais popular entrevistador da
TV norte-americana, foi sintomática. "Você é absolutamente
maravilhosa", derreteu-se ao
ouvir a contrabaixista e cantora
Esperanza Spalding, um mês
atrás, em seu talk-show.
As publicações especializadas em jazz também não têm
economizado elogios. A influente "Down Beat", por
exemplo, acaba de elegê-la
"melhor baixista acústica em
ascensão". O alvoroço é compreensível, já que essa bela norte-americana de 23 anos traz
um pacote completo: além de
se destacar como instrumentista e cantora, ela também
compõe e leciona na badalada
Berklee College of Music, em
Boston.
Platéias de São Paulo e Rio
vão poder conferir os atributos
da moça ao vivo, em outubro,
no TIM Festival. Até lá já se pode apreciar seu talento instrumental e vocal, no saboroso álbum "Esperanza", que a gravadora Universal acaba de lançar
no Brasil (leia crítica ao lado).
"Ouvi muita música pop,
R&B e rap quando era mais jovem", disse a jazzista à Folha,
citando entre seus favoritos de
adolescência as bandas Cibo
Matto, Counting Crows e A
Tribe Called Quest, além do
rapper LL Cool J e da cantora
Tori Amos. "Escutei muito
rock alternativo, mas muita
música clássica também."
Logo na primeira faixa de seu
álbum, uma versão bem pessoal de "Ponta de Areia" (Milton Nascimento e Fernando
Brant), ela demonstra que seu
gosto musical é mais amplo
ainda, passando pela MPB.
"Eu me sinto muito ligada à
música brasileira, particularmente à melodia e à harmonia,
que contribuíram bastante para meu estilo de compor e tocar", afirma Esperanza. Não é à
toa que, para criar os arrojados
contrapontos de voz e baixo
que exibe no CD, ela costuma
se exercitar tocando e cantando algumas das intrincadas
melodias de Hermeto Pascoal.
Com uma história de vida semelhante às de vários astros do
jazz, Esperanza nasceu em
Portland, no estado de Oregon,
onde foi criada pela mãe. "Ela
tocava um pouco de piano e
cantou por algum tempo com
uma banda local de jazz, mas
nunca chegou a se tornar profissional", conta, creditando à
mãe muito do estímulo que a
levou a se decidir pela carreira
musical.
Precoce, aos 20 anos Esperanza se tornou a mais jovem
professora na história da Berklee College, com exceção do
guitarrista-prodígio Pat Metheny. Mesmo assim, seu evidente talento não a livrou de
enfrentar o machismo de alguns colegas, típico de um universo musical ainda dominado
pelos homens.
"Para ser honesta, não quero
participar desse jogo de provar
que posso conviver com os machões. Eu trabalho duro para
aprimorar minha habilidade
técnica, porque quero ser capaz de me expressar e de interagir com todo tipo de música.
Ver professores aconselhando
alunas a se prepararem para
uma carreira dominada pelos
homens implica afirmar que as
coisas são assim e que você deve se acostumar. Acho isso uma
espécie de ofensa", rebate a
baixista e cantora.
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