São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Músico Almeida Prado morre aos 67

Santista era professor aposentado da Unicamp e apresentador do programa "Caleidoscópio", da Cultura FM

Seu catálogo, formado por mais de 400 obras, inclui as "Cartas Celestes", "Sinfonia dos Orixás" e "Salmo 23"

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O Brasil perdeu ontem um de seus principais compositores do pós-Guerra. Internado há dez dias na UTI do hospital Panamericano devido a uma parada respiratória, o santista José Antônio Rezende de Almeida Prado faleceu em São Paulo aos 67 anos.
Diabético desde 1997, Almeida Prado tinha saúde frágil. A doença afetou a visão e causava-lhe problemas para compor.
Tais dificuldades, contudo, não o impediam de ser um dos mais requisitados autores brasileiros.
Em 2005, foi compositor residente do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão; Antonio Meneses encomendou-lhe "Preambulum", para violoncelo solo, e ele vinha sendo, nos últimos anos, regulamente programado pela Osesp, que tocou algumas de suas principais criações, como o "Salmo 23" e a "Sinfonia dos Orixás" -que a Orquestra Sinfônica de Santo André executa no próximo final de semana, regida por Carlos Moreno, genro do compositor.
Em 2009, sob a regência de Cláudio Cruz, a Osesp interpretou sua última grande criação orquestral: a música que ele fez para o filme silencioso "Estudos Sobre Paris" (1928), de André Sauvage.
Professor aposentado da Unicamp, Prado era ainda um comunicador dotado de erudição e charme, que apresentava, na Cultura FM, "Caleidoscópio", programa de música contemporânea.

PIANO
Aluno dos nacionalistas Camargo Guarnieri e Osvaldo Lacerda, era pupilo informal do vanguardista Gilberto Mendes em 1969, quando, aos 26 anos, com os "Pequenos Funerais Cantantes", conquistou o primeiro lugar no Festival da Guanabara.
O prêmio lhe permitiu cruzar o Atlântico: morou em Paris durante quatro anos, onde teve aulas com Nadia Boulanger e Olivier Messiaen, sua grande influência.
Virtuose do piano, Prado foi um dos compositores brasileiros que melhor entendeu o instrumento, tendo escrito para ele obras concertantes, camerísticas e solistas.
As mais célebres são as "Cartas Celestes nº 1" (1974), em um idioma arrojado e despido de concessões.
Não restritas apenas ao piano, as "Cartas Celestes" se tornaram uma rica série de criações.
Seu catálogo, de mais de 400 itens, inclui partituras de forte conteúdo espiritual (não raro, de caráter abertamente religioso) e um uso pessoal de efeitos timbrísticos e harmônicos.
A partir do "Trio Marítimo" (1983), a agressividade dos anos 60 e 70 começa a ficar para trás e sua obra contempla peças neorromânticas e desconcertantemente acessíveis, como as "Gravuras Sonoras a D. João 6º" (2007).


Texto Anterior: Tuitadas
Próximo Texto: Almeida Prado principais obras
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.