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País na TV agora não é só classe média, diz diretor
Fernando Meirelles vê "democratização dos temas" após "Cidade de Deus" e "Carandiru'
Com projeto de série sobre procuradores, diretor se empolga com a operação Satiagraha: "Gilmar Mendes dá um vilão sensacional"
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia abaixo a continuação da
entrevista com Fernando Meirelles.
(LAURA MATTOS)
FOLHA - O autor de "Vidas Opostas" [Record], que se passava na favela, disse ter sido influenciado por
"Cidade de Deus". A Globo fez
"Duas Caras", também em torno de
favela. Seu filme teve o papel de levar a favela à teledramaturgia?
MEIRELLES - Acho que sim, mas
não só. Teve "Carandiru", "Tropa de Elite". Antes, tinha essa
coisa de que filme de favela não
dá público, o chavão de que
"pobre não gosta de ver pobre".
"Cidade de Deus" fez grande bilheteria, "Carandiru" superou,
"Tropa de Elite" virou esse fenômeno. As maiores bilheterias, inclusive da GloboFilmes
[da Globo], são filmes que têm
favela, o outro lado do Brasil. Aí
caiu a ficha, né, "poin"!
FOLHA - Isso foi positivo?
MEIRELLES - Eu acho, é a cara do
Brasil. Deve ser muito chato
para o cara que mora na favela,
assiste à TV há 30 anos e nunca
se viu retratado. É uma democratização dos temas. Parece
que o mundo oficial da TV era a
classe média. Agora o país é tudo, não só a classe média.
FOLHA - Por outro lado, há críticas
de que a favela só é retratada como
violenta, nas novelas e no filme.
MEIRELLES - No Rio, as favelas
são de fato violentas, não é um
preconceito, é uma estatística.
Mostrar isso mais ou menos
realmente é uma opção, mas é a
percepção que temos da favela.
Mas é um pouco estigmatizado,
você tem razão. É um estigma
que entendo por que existe.
FOLHA - Você tem vontade de um
dia voltar à favela com outro olhar?
MEIRELLES - Pode ser, mas não
há nenhum projeto. Na O2, ficamos seis anos em favela. Teve
"Cidade de Deus", depois a série e o longa "Cidade dos Homens", e "Antônia", que não
mostrava violência. Acho que já
demos nossa contribuição.
FOLHA - Você começou na TV como
cameraman do Ernesto Varela [repórter irreverente interpretado por
Marcelo Tas nos anos 80]. Por que
esse trabalho é visto com nostalgia?
MEIRELLES - Varela tinha uma liberdade que hoje, nem que
queira, não se pode ter. A gente
não pedia autorização, ninguém tinha que assinar nada.
Além de câmera, montava o Varela. Pegava meus discos, punha música e colocava no ar.
Hoje, toda semana o "Pânico" é
processado. É tudo com direito
[autoral], contrato. Aparece alguém na rua tem que pedir autorização. A gente não conseguiria fazer aquelas coisas com
essa invasão de advogados em
nossa vida, como existe hoje.
FOLHA - Como está seu projeto de
fazer uma série sobre procuradores?
MEIRELLES - Por enquanto não
rolou, apesar de a Globo gostar.
É genial esse tema de procuradores, Polícia Federal, Supremo Tribunal Federal, juízes.
FOLHA - A operação Satiagraha
acaba sendo uma boa novela, não?
MEIRELLES - Total, total. O Gilmar Mendes dá um vilão sensacional. Pode publicar [risos].
FOLHA - Você elogiou o Cidade
Limpa de Kassab. Ele terá seu voto?
MEIRELLES - Essa eleição vai ser
difícil. Alckmin seria a minha
alternativa, mas -isso pode publicar- por causa do Campos
Machado [vice do tucano], não
vou votar nele. Escreva aí por
favor: não sei em quem vou votar, mas [olha o gravador e fala
separando sílabas] por causa do
Campos Machado não vou votar no Alckmin. O Kassab é um
cara que consegue fazer coisas
que outros não conseguiram. A
restrição de caminhões, por
exemplo, e tirar algumas favelas, como a da Lapa, na ponte
Anhangüera... Mas a Marta falou que a ênfase dela é no transporte, o que acho interessante.
Vou analisar. O que sei [grita
para o gravador] é que, por causa do Campos Machado...
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