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Livro reúne 25 horas de entrevistas com Cobain
Além do vocalista do Nirvana, biografia que chega ao Brasil traz cerca de 60 fontes
Jornalista e escritor norte-americano Michael Azerrad freqüentava a casa de Cobain um ano antes de
seu suicídio, em 1994
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
O adjetivo definitivo é talvez
o mais usado para classificar
uma biografia bem produzida.
Quando o tema é Kurt Cobain,
um trabalho que pode ser considerado definitivo é "Mais Pesado que o Céu", extensa pesquisa de Charles R. Cross já
lançada no Brasil. Agora, as livrarias do país recebem, finalmente, uma obra definitiva sobre a banda que lançou o vocalista ao estrelato.
"A História do Nirvana -°Come As You Are" (ed. Madras;
368 págs.; R$ 49,90) é o resultado de 25 horas de entrevistas
que Michael Azerrad fez com
Cobain, entre 1992 e 1993. O
jornalista e escritor norte-americano conversou ainda com os
outros integrantes da banda
(Krist Novoselic, baixista; Dave
Grohl, baterista), parentes,
amigos e gente da indústria.
O livro foi lançado nos EUA
no final de 1993 -Cobain cometeu suicídio em abril de
1994, e o Nirvana, uma das mais
influentes bandas da últimas
duas décadas, deixou de existir.
Durante a realização da biografia, Azerrad esteve muito
próximo de Cobain. Freqüentava a casa do músico, e as conversas varavam madrugadas.
Conseguiu arrancar do vocalista detalhes de sua infância e
adolescência até então desconhecidos do público (problemas familiares, depressão).
Além do lançamento do livro,
Azerrad vem ao Brasil. Ele participa do debate "O Que É Underground na Era do MySpace?", evento que faz parte do
festival Orloff5, que acontece
em São Paulo entre 1º e 6 de setembro. O debate acontece na
Fnac Paulista (av. Paulista, 901,
SP; tel. 0/xx/ 11/2123-2000; entrada gratuita), às 19h, e terá,
além de Azerrad, o norte-americano Buzz Osbourne (do grupo Melvins).
A seguir, a entrevista que
Azerrad concedeu à Folha.
FOLHA - Seu livro sobre o Nirvana
foi publicado antes da morte de Kurt
Cobain. Depois, saíram várias obras
sobre ele e a banda. Nesse cenário,
por que seu livro ainda é relevante?
MICHAEL AZERRAD - É o único que
inclui entrevistas com os membros da banda, e enquanto o
Nirvana ainda existia. Falávamos sobre coisas que estavam
acontecendo naquele momento. Algo que nenhum outro livro sobre o Nirvana possui.
FOLHA - Há alguns críticos que afirmam que o sr. não se aprofundou
em alguns temas, como os problemas de Cobain com a heroína...
AZERRAD - Completei [o livro]
em junho de 1993. Foi publicado em novembro de 1993. Muitas coisas dramáticas aconteceram após a conclusão do livro.
O problema dele [com a heroína] ainda não era tão grave.
Quando o livro foi publicado,
alguns meses haviam passado,
e eu não poderia prever o futuro. Sou um bom escritor, mas
não consigo prever o futuro...
FOLHA - Teve alguém que não quis
conceder entrevistas ao sr.?
AZERRAD - Uma vez que sabiam
que Kurt, Krist e Dave haviam
concordado, todos que procurei não se recusaram. Foram 50
ou 60 pessoas. O único que não
quis foi Calvin Johnson [da
banda Beat Happening e dono
do selo K Records]. Estava incomodado com o hype em cima
do Nirvana, não quis participar.
FOLHA - Por que o sr. se interessou
pelo Nirvana? Como foram seus primeiros contatos com a banda?
AZERRAD - Ouvi "Bleach" [disco
de estréia do Nirvana, de 1989]
e achei OK, mas nada que fosse
durar dez anos. Quando "Nevermind" saiu [em 1991], aquilo
capturou o momento que vivíamos. Essas coisas não acontecem a toda hora.
Meu primeiro contato foi
quando fiz uma capa para a
"Rolling Stone", em 1992. Entrevistei Kurt para a matéria.
Ele e Courtney viviam temporariamente perto de Los Angeles. Fui ao apartamento, e
Courtney atendeu. Ela foi muito gentil, me ofereceu uvas, salgadinhos. Me levou a um quarto, onde Kurt estava deitado.
Os pés escapavam do cobertor,
e suas unhas estavam pintadas
de vermelho. Ele me disse para
sentar ali, e fiz a entrevista.
FOLHA - A que o sr. atribui o enorme sucesso do Nirvana?
AZERRAD - Na época [final dos
80/começo dos 90] vivíamos
sob música pop muito ruim,
com bandas chatas de heavy
metal. Estávamos cansados daquilo. Ao mesmo tempo, muita
gente passou a prestar atenção
ao que ocorria no underground
americano, em bandas como
Black Flag, Pixies, Replacements, que faziam música boa e
ganhavam popularidade. O
Nirvana buscou influência em
várias dessas bandas e fez boa
música melódica. E tinham um
vocalista muito bonito.
FOLHA - Sobre a morte de Cobain,
muita gente afirma que ele estava
descontente com a fama e a atenção
que ele recebia. Mas quando o Nirvana começou, Cobain buscava o reconhecimento e a fama, não?
AZERRAD - Sim, ele queria ser
bem-sucedido. Mas depois passou a rejeitar aquilo. Mas esse
conflito não foi o que o levou ao
suicídio. Ele sofria de uma depressão crônica que nunca tratou. Sentia dores estomacais
violentas havia anos. Então colocar alguma coisa ou outra como motivo [para o suicídio] não
é focar no problema todo. Seria
como romantizar sua morte.
FOLHA - O Nirvana aconteceu antes da internet. Se a banda começasse hoje, faria o mesmo sucesso?
AZERRAD - O público fragmentou-se com a internet. Não temos uma banda com apelo tão
grande como o Nirvana. Talvez
o Radiohead, mas o público deles é mais específico. Talvez seja impossível aparecer uma
banda de rock como Nirvana.
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