São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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Crítica/DVD/"Eraserhead" e "Império dos Sonhos"

Lançamentos ajudam a entender Lynch

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

A maioria dos espectadores passou a reconhecer o nome de David Lynch a partir de "O Homem Elefante", o melodrama gótico que abriu as portas de Hollywood para o talento do diretor.
A mitologia em torno de sua imensa criatividade, contudo, foi resultado de "Eraserhead", seu primeiro longa, cuja realização demorou seis anos e só agora, mais de 30 anos após sua estréia, chega, em formato DVD, ao mercado brasileiro. Ao mesmo tempo, sai também em DVD uma edição extremamente pobre (se comparada às que foram lançadas nos Estados Unidos e na Europa) de "Império dos Sonhos", o último longa do diretor, concluído em 2006.
Os lançamentos simultâneos ajudam a compreender o processo de criação de Lynch, seu universo e referências e também esclarecem o histórico de sua filmografia. Ambos foram feitos à margem da indústria do cinema, tanto no que diz respeito aos esquemas de produção quanto aos padrões de linguagem e de significados.
Entre os dois títulos, Lynch realizou sete longas no âmbito da produção tradicional ou parcialmente associado a ela, além de ter introduzido a ruptura-chave na representação dos dramas de TV com a série "Twin Peaks".
O estranhamento, os tipos bizarros, a impressão onírica, os simbolismos e as violentações de sentidos impostas ao espectador são alguns dos tantos elementos associados aos filmes de Lynch. "Eraserhead" e "Império dos Sonhos" trazem tais forças soltas de forma mais selvagem.

Universo onírico
Em suas superfícies, ambos se assemelham ao universo dos sonhos, o que leva muitas análises a se satisfazerem na simples aproximação dos métodos de David Lynch com os dos propostos pelos surrealistas nas várias frentes das artes no século passado.
Se deixarmos de lado o impacto de seu imaginário, que acabou se convertendo em um clichê do universo de Lynch, "Eraserhead" e "Império dos Sonhos" aparecem como experiências que brincam de cinema mudo na imagem e amplificam os efeitos narrativos e sensoriais com o uso inquietante que o diretor faz do som nos dois trabalhos.
Neles, fica evidente que Lynch não propõe, do ponto de vista da forma, nada radicalmente experimental. O que ele insiste em fazer é usar as ferramentas consolidadas do cinema para sondar os mistérios da mente. Ao contrário do simplismo muito difundido, Lynch não faz filmes-cabeça, mas, sim, filmes sobre cabeças.


ERASERHEAD
Distribuidora:
Lume
Quanto: R$ 39,90 (em média)
Avaliação: ótimo

IMPÉRIO DOS SONHOS
Distribuidora:
Europa Filmes
Quanto: só para locação
Avaliação: ótimo


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