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Crítica/DVD/"Eraserhead" e "Império dos Sonhos"
Lançamentos ajudam a entender Lynch
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
A maioria dos espectadores passou a reconhecer
o nome de David Lynch
a partir de "O Homem Elefante", o melodrama gótico que
abriu as portas de Hollywood
para o talento do diretor.
A mitologia em torno de sua
imensa criatividade, contudo,
foi resultado de "Eraserhead",
seu primeiro longa, cuja realização demorou seis anos e só
agora, mais de 30 anos após sua
estréia, chega, em formato
DVD, ao mercado brasileiro.
Ao mesmo tempo, sai também em DVD uma edição extremamente pobre (se comparada às que foram lançadas nos
Estados Unidos e na Europa)
de "Império dos Sonhos", o último longa do diretor, concluído em 2006.
Os lançamentos simultâneos
ajudam a compreender o processo de criação de Lynch, seu
universo e referências e também esclarecem o histórico de
sua filmografia. Ambos foram
feitos à margem da indústria do
cinema, tanto no que diz respeito aos esquemas de produção quanto aos padrões de linguagem e de significados.
Entre os dois títulos, Lynch
realizou sete longas no âmbito
da produção tradicional ou parcialmente associado a ela, além
de ter introduzido a ruptura-chave na representação dos
dramas de TV com a série
"Twin Peaks".
O estranhamento, os tipos
bizarros, a impressão onírica,
os simbolismos e as violentações de sentidos impostas ao
espectador são alguns dos tantos elementos associados aos
filmes de Lynch. "Eraserhead"
e "Império dos Sonhos" trazem
tais forças soltas de forma mais
selvagem.
Universo onírico
Em suas superfícies, ambos
se assemelham ao universo dos
sonhos, o que leva muitas análises a se satisfazerem na simples
aproximação dos métodos de
David Lynch com os dos propostos pelos surrealistas nas
várias frentes das artes no século passado.
Se deixarmos de lado o impacto de seu imaginário, que
acabou se convertendo em um
clichê do universo de Lynch,
"Eraserhead" e "Império dos
Sonhos" aparecem como experiências que brincam de cinema mudo na imagem e amplificam os efeitos narrativos e sensoriais com o uso inquietante
que o diretor faz do som nos
dois trabalhos.
Neles, fica evidente que
Lynch não propõe, do ponto de
vista da forma, nada radicalmente experimental. O que ele
insiste em fazer é usar as ferramentas consolidadas do cinema para sondar os mistérios da
mente. Ao contrário do simplismo muito difundido, Lynch
não faz filmes-cabeça, mas,
sim, filmes sobre cabeças.
ERASERHEAD
Distribuidora: Lume
Quanto: R$ 39,90 (em média)
Avaliação: ótimo
IMPÉRIO DOS SONHOS
Distribuidora: Europa Filmes
Quanto: só para locação
Avaliação: ótimo
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