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Roda Brasil busca renovar público de circo em "Oceano"
Espetáculo tem rampas para patinação no picadeiro, criadas pelo projetista dos X-Games, a Olimpíada dos esportes radicais
Grupos Parlapatões e Pia Fraus estréiam amanhã espetáculo no Memorial da América Latina que tem ainda piratas e sereias
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Vai ter marmelada, sim, senhor, mas também bonecos infláveis de quase dez metros de
comprimento, pernas-de-pau
com molas ("jumpers") e patinação radical no picadeiro de
"Oceano", segundo espetáculo
do Circo Roda Brasil (parceria
dos grupos Parlapatões e Pia
Fraus), que estréia amanhã.
Os números sobre rodinhas
(realizados em rampas criadas
especialmente para a ocasião
pelo mesmo projetista dos X-Games, a Olimpíada dos esportes radicais) sublinham o foco
dos realizadores: o público jovem -ainda que o ponto de
partida seja a tentativa de um
garoto de reaver um brinquedo
tragado pelo ralo da banheira.
"Se ficarmos limitados ao público familiar (pais que levam
filhos pequenos), talvez o circo
se encolha ainda mais. Há que
se criar novas demandas", diz
Hugo Possolo, diretor artístico
e co-roteirista.
Ele diz querer "quebrar o paradigma do circo como mero
entretenimento": "Obviamente, é uma diversão. Mas ela pode ser muito profunda, não por
passar uma grande mensagem,
mas pela forte possibilidade
poética que encerra".
Em cena, a trupe sonda esse
lirismo em referências à fauna
e à flora marítimas, além de
acenos ao imaginário fantástico de piratas, rainhas do mar e
"20 Mil Léguas Submarinas",
de Júlio Verne (1828-1905).
Dessa forma, ninfas e sereias
revezam as atenções com baleias, golfinhos, cavalos-marinhos e pingüins.
Estrutura
Na comparação com a estréia
do Roda Brasil, em "Stapafúrdyo" (2006), Possolo vê uma
evolução na amarração das cenas. "Antes, a dramaturgia circense era um pouco mais frágil,
apoiada em alguns números já
conhecidos. Agora, existe um
pretexto para que as coisas
aconteçam; pensamos os números a partir das imagens a
que queríamos aludir."
As pretensões high-tech do
primeiro trabalho ficaram pelo
caminho. "Tínhamos tentado
dar um salto tecnológico na utilização de motores, seguir o
modelo internacional caro.
Percebemos que, em nossa realidade econômica, é melhor
trabalhar mesmo com a baixa
tecnologia. Voltamos, então, à
raiz dos grupos."
O intuito de revigorar o circo
não caducou. "É preciso salvar
um patrimônio imaterial que
está morrendo, a tradição oral
que está sendo sufocada pela
marginalização do circo -intelectual e geográfica (cada vez
mais distante dos grandes centros). A nova geração também
precisa de apoio e suporte; falta-lhe infra-estrutura", avalia o
diretor.
Beto Andreetta, co-roteirista
de "Oceano", faz coro: "Você
não tem idéia da draga que é isto aqui. O orçamento mínimo
de circo é muito maior do que
qualquer orçamento mínimo
de teatro, pois você tem de erguer sua casa de espetáculos.
Isso o Estado demora um pouco a reconhecer".
OCEANO
Quando: estréia amanhã; qui. e sex.,
às 21h; sáb., às 16h e às 21h; dom., às
16h e às 19h; até 24/8
Onde: Memorial da América Latina
-portão 4 (av. Auro Soares de Moura
Andrade, 664, São Paulo, tel. 0/xx/ 11
3867-2398); classificação livre
Quanto: R$ 30
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