São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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Roda Brasil busca renovar público de circo em "Oceano"

Espetáculo tem rampas para patinação no picadeiro, criadas pelo projetista dos X-Games, a Olimpíada dos esportes radicais

Grupos Parlapatões e Pia Fraus estréiam amanhã espetáculo no Memorial da América Latina que tem ainda piratas e sereias

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Vai ter marmelada, sim, senhor, mas também bonecos infláveis de quase dez metros de comprimento, pernas-de-pau com molas ("jumpers") e patinação radical no picadeiro de "Oceano", segundo espetáculo do Circo Roda Brasil (parceria dos grupos Parlapatões e Pia Fraus), que estréia amanhã.
Os números sobre rodinhas (realizados em rampas criadas especialmente para a ocasião pelo mesmo projetista dos X-Games, a Olimpíada dos esportes radicais) sublinham o foco dos realizadores: o público jovem -ainda que o ponto de partida seja a tentativa de um garoto de reaver um brinquedo tragado pelo ralo da banheira.
"Se ficarmos limitados ao público familiar (pais que levam filhos pequenos), talvez o circo se encolha ainda mais. Há que se criar novas demandas", diz Hugo Possolo, diretor artístico e co-roteirista.
Ele diz querer "quebrar o paradigma do circo como mero entretenimento": "Obviamente, é uma diversão. Mas ela pode ser muito profunda, não por passar uma grande mensagem, mas pela forte possibilidade poética que encerra".
Em cena, a trupe sonda esse lirismo em referências à fauna e à flora marítimas, além de acenos ao imaginário fantástico de piratas, rainhas do mar e "20 Mil Léguas Submarinas", de Júlio Verne (1828-1905). Dessa forma, ninfas e sereias revezam as atenções com baleias, golfinhos, cavalos-marinhos e pingüins.

Estrutura
Na comparação com a estréia do Roda Brasil, em "Stapafúrdyo" (2006), Possolo vê uma evolução na amarração das cenas. "Antes, a dramaturgia circense era um pouco mais frágil, apoiada em alguns números já conhecidos. Agora, existe um pretexto para que as coisas aconteçam; pensamos os números a partir das imagens a que queríamos aludir."
As pretensões high-tech do primeiro trabalho ficaram pelo caminho. "Tínhamos tentado dar um salto tecnológico na utilização de motores, seguir o modelo internacional caro.
Percebemos que, em nossa realidade econômica, é melhor trabalhar mesmo com a baixa tecnologia. Voltamos, então, à raiz dos grupos."
O intuito de revigorar o circo não caducou. "É preciso salvar um patrimônio imaterial que está morrendo, a tradição oral que está sendo sufocada pela marginalização do circo -intelectual e geográfica (cada vez mais distante dos grandes centros). A nova geração também precisa de apoio e suporte; falta-lhe infra-estrutura", avalia o diretor.
Beto Andreetta, co-roteirista de "Oceano", faz coro: "Você não tem idéia da draga que é isto aqui. O orçamento mínimo de circo é muito maior do que qualquer orçamento mínimo de teatro, pois você tem de erguer sua casa de espetáculos. Isso o Estado demora um pouco a reconhecer".


OCEANO
Quando:
estréia amanhã; qui. e sex., às 21h; sáb., às 16h e às 21h; dom., às 16h e às 19h; até 24/8
Onde: Memorial da América Latina -portão 4 (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, São Paulo, tel. 0/xx/ 11 3867-2398); classificação livre
Quanto: R$ 30


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