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Livro destaca Segall decorador e cenógrafo
Produção feita por artista nas décadas de 20 e 30 é analisada por sociólogo
Decoração de pavilhão de Olívia Guedes Penteado e cenografia de bailes de Carnaval da Spam são estudos da publicação
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Cada época criou a sua arquitetura própria e daí vem que
a pintura decorativa é, como a
arquitetura, a expressão do momento." A importância que Lasar Segall (1891-1957) dá ao seu
trabalho em decoração é um
dos "achados" que o sociólogo
Fernando Antonio Pinheiro Filho registra em "Lasar Segall
-Arte em Sociedade", livro da
Cosac Naify que ganha lançamento amanhã, em São Paulo.
Celebrado como um grande
nome do expressionismo no
país e, recentemente, visto ainda como um pintor adepto do
realismo -na mostra "Segall
Realista", com curadoria de Tadeu Chiarelli-, o artista nascido na Lituânia e naturalizado
brasileiro tem sua produção
dos anos 20 e 30 em decoração
e cenografia estudada com profundidade, que ajuda a entendê-la de modo mais completo.
"Os trabalhos de decoração
foram estratégicos para que Segall se aproximasse das frações
da elite paulistana que cultivavam as artes e que já tinham se
aproximado dos modernistas",
diz Pinheiro Filho, professor de
sociologia da USP. "No interior
desse circuito e dessa rede de
interdependências ele obterá
as condições necessárias para
sua consagração no Brasil."
A decoração do Pavilhão de
Arte Moderna de Olívia Guedes
Penteado, em 1924 e 1925, e a
cenografia para os bailes da
Spam (Sociedade Pró-Arte Moderna), em 1933 e 1934, são
projetos esmiuçados pelo autor
que, segundo ele, foram fundamentais para que Segall se tornasse um "artista brasileiro".
"Quando ele chega ao Brasil,
já é um artista seguro de seus
enormes recursos, mesmo na
situação difícil de emigrado.
Ele é obrigado a fazer uma tradução de seu repertório técnico
para o ambiente brasileiro. Aí
ganha sentido a valorização da
pintura decorativa associada ao
moderno, que combinou com o
desejo de renovação simbólica
do público", conta o autor.
Nesse caso, o público deve
ser entendido como "os amigos
das artes", frações da elite paulistana que desejavam legitimar seus gostos com o moderno em voga, mas que ainda lidavam de maneira contraditória
com as "novidades".
Penteado, por exemplo,
construiu seu pavilhão moderno como um anexo do seu palacete nos Campos Elíseos. A nova edificação abrigaria trabalhos de Brancusi e Léger, entre
outros, além da decoração especialmente feita por Segall na
entrada, nas paredes e nos tetos, enquanto a residência permaneceria ornada com obras
acadêmicas.
Spam
Segall atestaria sua total inserção na elite intelectual e
econômica paulistana com a
criação da Spam, entidade que
organizaria uma série de atividades (exposições, concertos,
bailes) de arte moderna na cidade e que tinha o artista como
um dos fundadores.
A sociedade duraria pouco,
de 1932 a 1934, e tinha composição variada: modernistas de
22, músicos como Camargo
Guarnieri (1907-1993) e Francisco Mignone (1897-1986), e
egressos de famílias tradicionais (Penteado, Almeida e Silva
Telles etc).
O ponto alto da Spam eram
os bailes carnavalescos, eventos nos quais Segall tinha papel
crucial. Da escolha do tema à
divisão de tarefas, passando por
coreografia e, em especial, cenografia, ele era o maior organizador das festas de Carnaval.
Em 1934, na rua Martinico Prado, coordenou o baile "Expedição às Matas Virgens de Spamolândia", com cenografia inspirada na arte primitiva e na arte africana. Com animais exóticos e disformes, a decoração investiu em tons de ocre, terra,
amarelo e laranja, criando um
ambiente bastante particular.
LASAR SEGALL - ARTE
EM SOCIEDADE
Autor: Fernando Antonio Pinheiro Filho
Editora: Cosac Naify
Quanto: R$ 42 (272 págs.)
Lançamento: amanhã, às 19h, no Canto Madalena (r. Medeiros de Albuquerque, 471, SP, tel. 0/xx/11/3813-6814)
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